quarta-feira, 29 de abril de 2009

Uma Obra Sublime

Resposta a amiga e artista incondicional Silvia Menezes
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Retenho um carinho profundo e especial como ser humano e artista por Silvia Menezes. Dada a importância e beleza de seu trabalho no meio artístico, não poderia deixar de relevar a devida importância ao seu texto crítico sobre o meu trabalho "O Anjo Elegíaco", não poderia deixar de postar um artigo especial em minhas publicações. Abaixo, reescrevo seu texto sublime. E abaixo, a minha resposta à ele.

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Por Silvia Menezes

"Uma obra sublime, singela, doce, totalmente romântica. Se me permite fazer uma leitura pessoal, eu diria: a dor da perda de um grande amor, não mostrar seu rosto para que não se veja o seu sofrimento, o nu ao me ver representa o desejo de se tocar de se amar. Eu olho para esse anjo e sinto uma religiosidade misturada com amor carnal, aquele que desejamos e talvez não possamos ter. O seu estado de sofrimento chega a ser belo, embora traga sofrimento me parece um sofrimento bom pelo fato de ser por amor, uma certa mistura com alegria, não, não é loucura nem incoerência. Quem nunca sofreu por amor? Quem nunca experimentou as dores da perda de um doce e verdadeiro amor? Sublime. Triste é nunca ter vivido essas emoções: dor, perda, alegria, amor, sedução, sonhar acordado e tantos outros que fazem parte do amor, isso é ter vivido, o ter se arriscado, ter ido contra todos os princípios impostos pela sociedade, um anjo que talvez tenha amado um(a) mortal, vai contra esses princípios. É necessário quebrar os tabus, libertar-se para viver o que nem imaginamos. Existe um versículo bíblico que me encanta onde Deus diz: o que não subiu ao coração do homem é o que Tenho preparado para ele. Que tal criarmos asas e alçar voos nos permitirmos mais? Amar mais sem regras, sem restrições, sem preconceitos bobos, simplesmente amar. Talvez não dure para sempre, mas pelo menos existiu, terás uma história, uma lembrança, terá experimentado as sensações que mencionei acima. Ao olhar esse anjo sinto muitas emoções que chega ser difícil descrevê-las. Desculpe caso tenha ultrapassado algum limite ou tenha saído da proposta, mas escrevi o que realmente sinto quando o vejo. Um forte abraço."
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Resposta, por Felipe de Moraes

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Querida Silvia,
Não pude deixar de me emocionar com o seu texto absolutamente romântico e aprofundado numa análise absolutamente artística. Quando concebi essa obra, estava em profundo contato com Deus e de seus mistérios expressos em música, pois a executei inteiramente sob a apreciativa audição da Missa em Si menor (BWV232), de Bach. Farei ainda uma postagem dessa magnânima obra em meu blog, relacionando-a com a postagem de “O Anjo Elegíaco”.

Outro ponto que faço questão de expor, é que me identifiquei com tudo o que escreveu. No final do ano passado, passei por todos esses sentimentos que descreveu. Em várias intensidades. Confesso que chorei ao ler seu texto, primeiro porque me identifiquei profundamente com ele pelos ocorridos recentes em minha vida, e principalmente porque contextualizei três pontos cruciais: o fato da divindade do desenho, envolto com os sentimentos que afloravam em mim, e o fato de você ter captado tudo isso. E é esse o ponto: é triste nunca poder sentir essas emoções. A vida em sua efemeridade, é tão mais bela do que se fosse eterna. Tudo isso, acontece nesse breve espaço/tempo que chamamos de vida. O que é esse espaço, vazio digamos, na amplitude do universo, que em nossa contagem de tempo tem aproximadamente 15 bilhões de anos. Ela só tem um sentido repleta dessas sensações, desses momentos que passamos, dessas tristezas e alegrias. Creio que a alegria não seria tão bela se não existisse a tristeza, e vice versa. O bom é sentir ambas sempre no decorrer da vida, assim como todos os outros sentimentos e sensações. Quebrar tabus e conceitos é essencial para a sobrevivência da vida, é libertar-se, tornar sua alma livre. Só conhecemos algo quando nos permitimos isso, ou seja, quando ousamos. No princípio do século XX, um homem quebrou todos os conceitos clássicos da Física, impostos ao longo de mais de 300 anos. Seu nome é Albert Einstein. Ele explorou todo o universo sem mesmo sair da Terra. Todos os conceitos que temos hoje de “criação”, devemos a ele. Ele desvendou muitos pontos, e nos abriu muitas portas. E nunca deixando de acreditar em Deus. Ele sabia dos limites que podemos ir, sem penetrar nos mistérios de Deus, pois nessa fronteira, tudo perde o pé, e nada mais é cognoscível à nossa inteligência ou entendimento científico.

Amar sem restrições, como você escreve. Esse amar vai muito além do entendimento humano, caindo nessa fronteira que a Física calculou tão exatamente. O que compreendemos, controlamos. O que não apreendemos, nos é mistério, e assim aproveitamos mais as sensações que nos são oferecidas. “O que não subiu ao coração do homem, é o que tenho preparado para ele”. Podemos incluir em “ao coração”, também o contexto de “ao entendimento”, pois esses limites calculáveis nos separam de todo mistério de Deus. Se quiser entender mais desses meu pensamentos, pode ler mais em meus artigos de Física Quântica, pois neles os exponho de maneira filosófica e de fácil entendimento.

E como o Grande Vinícius de Moraes escreve, “que não seja imortal, posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure.” Tudo é eterno enquanto se retém na infinidade de um momento. Esses ínfimos momento se tornam eternos. Como diz Drummond: “eterno é o recém-nascido nos braços da mãe, antes que lhe dêem um nome”. Tudo nos pode ser eterno, é só querermos. Você também expõe sentir “muitas emoções que chega ser difícil descrevê-las.” O ideal e conveniente é não descrever, apenas senti-las. Devemos de todas as maneiras lutar para nunca definir nada. Apenas sentir em nosso interior. Essa capacidade de “emocionalizar” as coisas é muito difícil, mas quando conquistada, verá que evoluirá muitíssimo tanto emocional quanto intelectualmente. Você sentiu as emoções, apenas tente defini-las como emoções, sem nomes ou definições estéticas e materiais. Isso é um dos mistérios que se escondem além dos limites calculáveis. Se, por exemplo, você conseguir sentir o silêncio entre os movimentos de uma sinfonia, ou o espaço parcialmente vazio numa obra de arte, verá que ele de fato fala tanto quanto o restante da obra. Tudo isso é importante.

E não quero que peça desculpas, você teve a atitude coerente. Ousou, foi além do que até eu mesmo esperava. Sempre soube que você é uma artista de gabarito, mas agora tenho também a certeza que se continuar com essa sua força emocional e intelectual, será mais uma estrela nesse Universo.
Muito obrigado pelo seu maravilhoso texto. Que Deus sempre conserve você esse ser humano maravilhoso, e que Ele evolua seus pensamentos, suas emoções e seu intelecto, para que você nunca encontre limites, pois um dia cada um deles será quebrado.

Felipe de Moraes
29 de abril de 2009

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Reflexões sobre o Universo


Tenho mais com o que me preocupar.
Como o céu azul...
...o próximo CD que ouvirei...
...o próximo livro que degustarei.


A casa de chocolates da esquina que fecha às 20h. E se me der vontade antes de dormir já terá fechado. Tenho que me preocupar em suprir meu quarto antes que ela feche. Isso é de suma importância, concorda?!

A vida é um fato importante. Vou ficar me preocupando com ninharias que os homens criam e fazem tempestade em cima!?

A vida é simples demais.
Os homens que complicam.
O amor é simples.
O encontro com Deus é simples.
É só você parar pra perceber isso.


Você acredita em Deus?
Então é o suficiente pra você entender a simplicidade da vida.
E de que você não precisa de mais nada do que tem nesse mundo.
Só de ar para continuar vivo, e da certeza que um dia vai morrer.
E deixar tudo isso daqui pra trás, e levar consigo só o que estiver intrínseco em você, na sua alma...


Então, é o que eu falo:
Ame incondicionalmente, todas as coisas. Do mais pequenininho inseto até a grandiosidade do universo. Deus está em tudo isso. E toda essa força que move nossas paixões, nossas emoções e nossa vida, é a mesma que colocou o universo em movimento há 15 bilhões de anos.


Por isso devemos ter noção: nada é complicado demais que chegue sequer perto de uma ínfima parte de 15 bilhões de anos.

Entende a superficialidade do homem diante da magnitude do universo?
Se quiser encontrar explicação pra certos problemas, pense se esses problemas deveriam mesmo lhe incomodar.


Sim, a felicidade é tão simples quanto o amor.
Ambos, você deve encontrar dentro de si mesmo.
E só de si, porque somente assim vai aprender amar.
E quando digo amar, não é essa coisa imposta pela mídia.
Esqueça esse amor. Ele é inútil!
Só nos traz sofrimento e perda de tempo.


Por exemplo. Você nunca viu neve?
Procure na internet, fotos de um floco de neve.
É uma das coisas mais lindas!!! Ao microscópio.
E nunca, jamais, um floco de neve será igual a outro. Todos são diferentes.
E todos vão se derreter e deixar de ser o que são e se tornarem um único corpo novamente: água.

Sim, a felicidade é tão simples quanto o amor.
Ambos, você deve encontrar dentro de si mesmo.
E só de si, porque somente assim vai aprender amar.


Pensamentos devem ser moldador como argila, não talhados como mármore.


Felipe de Moraes
27 de março de 2009

O Anjo Elegíaco

Hoje farei uma postagem puramente de arte. É um desenho que executei em pastel seco sobre off-set preta, e que assinei em 14 de julho de 2005, e intitulei de “L’Ange Élégiaque”. Optei por este nome em francês, pois justamente na época em que trabalhei nessa peça, estudava conjuntamente um Trio Élégiaque para piano, violino e violoncelo, de Rachmaninov, e que fez parte do conjunto de inspirações para esse trabalho. A inspiração veio de uma escultura que está no Cemitério da Consolação, no túmulo do jornalista Cerqueira César. Na época, havia feito várias fotografias das obras de arte neste mesmo Cemitério, e já executei outras pinturas também, posteriores à, que podem ser vistas em minha postagem da Sinfonia 4 de Gustav Mahler.

Sempre fui fascinado por anjos. E nos cemitérios sempre encontro esculturas dignas para horas de sistemática apreciação. Quase sempre os artistas são desconhecidos, mas a mensagem não. Anjos são mensageiros, sempre nos trazem algo. Esses locais são sempre associados à morbidez, morte, tristeza... Mas longe disso, vejo um local de repouso, onde Deus também se faz presente, onde quem ali está apenas espera, repousando, a ressurreição. Para eles, tudo já é vencido, inclusive a morte. Os anjos e as esculturas que ali flanam, apenas admiram, às vezes entristecidos e melancólicos, às vezes admirativos, alguns até parecendo nos dizer: “Por que está triste? Sei onde está quem você procura, e está bem.”



L'Ange Élégiaque
Pastel seco sobre off-set preta - 29,7cm x 42cm - 2006

Neste desenho, o anjo repousa nu sobre blocos vermelho-magenta, e porta 2 tecidos azuis, um escondendo o que seria seu sexo (visto que anjos não têm sexo), e outro na mão esquerda, esta semioticamente simbolizando o lado das emoções. As cores foram selecionadas por mim, pois a escultura original é em mármore branco. O vermelho-magenta que escolhi para os blocos, simboliza o lado terreno, e o azul dos tecidos o lado divino. O branco do anjo, em auto-contraste com as sombras, o faz um ser divino também, cheio de luz, resplandecente. A opção de base que fiz para o desenho (off-set preto) gerou um resultado interessante, pois destaca as cores e as sombras no anjo, que são de um preto mais intenso, nos fazendo penetrar mais na obra, repousando e aprofundando o olhar. O corpo bem delineado, ao mesmo tempo em que parece flutuar, debruça-se sobre os blocos, em profunda elegia e lamento. A mão esconde o rosto, fechando a figura em seu próprio interior. As asas relaxadas também entrelaçam-se com o corpo, que possui uma sensualidade mágica e completamente humana. A iluminação é praticamente teatral, onde me remeto às obas de Caravagio, porém com maior luminescência nas cores e menor definição de realidade. O lenço azul em sua mão possui 3 dobras, simbolizando a Santíssima Trindade. A parte de cima das asas parece que irá envolvê-lo, enquanto das de baixo o elevarem. O anjo não faz nada diante da morte, apenas lamenta e introspecta-se em sua elegia. Ele está ali, apenas. Dentro de si mesmo e de seus sentimentos. O mundo decorre-se do lado de fora, e ele se deixa ver. Ele não sairá voando a qualquer momento. Ele se permite estar ali, em todo seu pesar, e em toda sua leveza. Apenas elegíaco.

Felipe de Moraes
2 de abril de 2009

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O Vácuo Quântico

Simulação de Emaranhamento Quântico

Seguimos agora à última e conclusiva postagem acerca de minhas divagações quântico-filosóficas, o que dará fechamento a essa seqüência de textos e uma conclusão momentânea aos meus pensamentos. Digo momentânea, pois a qualquer hora posso abrir uma nova discussão acerca do assunto, seja através das artes, da música, da fotografia.

Mais vastos que o Universo são os pensamentos dos homens, e por isso nunca podemos deixar determinados assuntos morrerem, apenas descansarem para em seguida despertarem sob novas ótica e perspectiva.

Existe na física um conceito novo, que provou sua riqueza operatória: o do vácuo quântico. O vácuo absoluto, caracterizado por uma ausência total de matéria e de energia, não existe. Mesmo o vácuo que separa as galáxias não é totalmente vazio, contém alguns átomos isolados e diversos tipos de radiação Seja criado de forma natural ou artificial, o vácuo no estado puro não passa de uma abstração. Realmente, não se conseguirá eliminar um campo eletromagnético residual, que constitui o “fundo” do vácuo.



Raios Gama

O vácuo quântico é, assim, o teatro de um incessante balé de partículas que aparecem e desaparecem num tempo extremamente breve, inconcebível na escala humana.


À Esquerda: simulação da formação de estrelas caso a matéria escura fosse quente, com muitos astros sendo criados ao mesmo tempo. À direita, simulação com matéria fria: Poucas estrelas com muito espaço.


Tomemos um espaço vazio. A teoria quântica demonstra que se transferirmos para ele uma quantidade suficiente de energia, pode emergir matéria desse vazio. Por extensão, pode-se supor que na origem, imediatamente antes do big-bang, um fluxo de energia incomensurável foi transferida para o vácuo inicial, acarretando uma flutuação quântica primordial, de onde nasceria o nosso Universo.

Mas de onde vem essa colossal quantidade de energia? Por intuição, aquilo que se esconde por trás do “limite de Planck” é bem uma forma de energia primordial, de uma potência ilimitada. Antes da Criação reina uma duração infinita. Um Tempo Total, inesgotável, que ainda não foi aberto, dividido em passado, presente e futuro.

O oceano de energia inesgotável é o Criador. Se não podemos compreender o que se encontra atrás do limite, é porque todas as leis da física perdem o pé diante do mistério absoluto de Deus e da Criação.

Por que o Universo foi criado? O que levou o Criador a engendrar o Universo tal como o conhecemos? Antes do “tempo de Planck” alguma coisa aconteceu. O quê?! Não sei. Um suspiro de Nada. Talvez uma espécie de acidente do nada, uma flutuação do vácuo. Em um instante fantástico, o Criador, consciente de ser aquele que É na totalidade do nada, decide criar um espelho para sua própria existência. A Matéria, o Universo, a Vida, a Inteligência, as Emoções e Sentimentos... reflexos de sua consciência, ruptura definitiva com a bela harmonia do nada original. Deus, de certo modo, acaba de criar uma imagem e, mais que isso, uma expressão de si mesmo.

Foi assim que tudo começou? Talvez a ciência nunca vá dizê-lo diretamente. Mas, em seu silêncio, ela pode e deve servir de guia para as nossas intuições.


Felipe de Moraes
Concluído em 26 de março de 2009
Baseado nos pensamentos do livro
Deus e a Ciência,
Jean Guitton, Irmãos Bogdanov;
Editora Nova Fronteira

A Duração do que Chamamos de "Tempo"

Nebulosa Ampulheta

Simplesmente chamamos de “tempo” a unidade que utilizamos para medir o decorrer dos eventos. Einstein declarou certa vez: “O tempo existe para que todas as coisas não aconteçam de uma só vez.” Mas será que de fato existe mesmo? Por exemplo: as medidas de tempo e espaço que utilizamos, serviriam, por exemplo, em Júpiter, que é imensamente maior que a Terra, e seu curso em torno de si mesmo e do Sol são igualmente maiores? Ou imaginemos um pouco além: serviria em outra parte do universo, onde os eventos acontecem bem mais rapidamente ou bem mais lentamente, e a percepção de seres pensantes fosse desse “tempo” passando mais rápido ou mais lentamente?

Um dos pontos da física quântica é esse: a percepção da passagem do tempo é diferente em cada pessoa, em cada ser. Por exemplo, tomemos uma palestra que assistimos. Se o assunto é de nosso agrado, o tempo desaparece, passa rapidamente e não nos dá a chance de sequer notá-lo. Já quando o assunto não é de nosso interesse, ou não gostamos, o tempo parece esticar-se, dilatar... até mesmo tornar-se infinito. Por que isso acontece? Essas distorções em uma medida exata, não deveriam existir. Se existem, é porque não é uma medida exata, ou a nossa percepção sobre ela não tem nenhum efeito exato.

Mas para esmiuçarmos esse assunto, voltemos consideravelmente no tempo, e vejamos como os eventos se sucederam para abrir caminho para a divisão dos acontecimentos. A 10-32 segundo, há a primeira transição de fase de nosso universo. A força forte, que garante a coesão do núcleo atômico, destaca-se da força eletrofraca, que é resultante da fusão da força eletromagnética e da força de desintegração radioativa. Nessa época, o universo já cresceu em proporções fenomenais: mede então trezentos metros de um extremo ao outro. Seu interior é o reino das trevas e das temperaturas inconcebíveis.

Entre 10-11 e 10-5 segundo, intervém um acontecimento essencial: os quarks se associam, formando nêutrons e prótons, e a maioria das antipartículas desaparece para dar lugar às partículas do Universo atual.

Na décima milésima fração de segundo, num espaço que acaba de se ordenar, surgem as partículas elementares. O Universo continua a se dilatar e a resfriar. Aproximadamente duzentos segundos após o instante original, as partículas elementares reúnem-se para formar os isótopos dos núcleos de hidrogênio e de hélio.

Uma história com cerca de três minutos. A partir daí, as coisas caminham muito mais lentamente. Durante bilhões de anos, todo o Universo fica embebido em radiações e num plasma de gás turbulento. Por volta de cem bilhões de anos, as primeiras estrelas se formam em imensos turbilhões de gás. E no núcleo delas, os átomos de hidrogênio e hélio se fundem para dar origem aos elementos pesados que encontram caminho na Terra bem mais tarde.



Nos primórdios do Universo, o tempo parece esticar e dilatar-se até se tornar infinito. Isso nos conduz a uma essencial reflexão: Não seria o caso de ver nesse fenômeno uma interpretação científica da eternidade divina? Um Deus que não teve começo e que não conhecerá fim não está necessariamente fora do tempo, tal como tem sido descrito com demasiada freqüência: Ele é o próprio tempo, simultaneamente quantificável e infinito, um tempo em que um único segundo contém a eternidade inteira. Chega a ter uma dimensão simultaneamente absoluta e relativa do tempo: esta é uma condição indispensável à criação.

Efetivamente, os físicos não têm a menor idéia daquilo que poderia explicar o aparecimento do Universo. Podem retroceder a 10-43 segundo, mas não passam daí. Esbarram então no famoso “limite de Planck” . Além do “limite de Planck”, é o mistério total.

10-43 segundo. É o “tempo de Planck”, conforme a bela expressão dos físicos. É também o limite extremo dos nossos conhecimentos, o fim de nossa viagem às origens. Além dessa barreira esconde-se uma realidade inimaginável.

Segundo o físico John Wheeler: “Tudo o que conhecemos encontra sua origem num oceano infinito de energia que tem a aparência do nada.”

Segundo a teoria do campo quântico, o Universo físico observável é constituído de flutuações menores num imenso oceano de energia.


Felipe de Moraes
Concluído em 26 de março de 2009
Baseado nos pensamentos do livro
Deus e a Ciência,
Jean Guitton, Irmãos Bogdanov;
Editora Nova Fronteira

Interlúdio: Matéria Através da Energia / Limites e Fronteiras Calculáveis

Depois do texto Surgimento, Expansão e Tamanho do Universo, devo fazer uma postagem intermediária e esclarecedora de pontos que abordarei nos dois textos seguintes, e que delineará claramente minhas intenções com esses estudos científicos. Num primeiro texto, abordarei o surgimento da matéria através do “espírito”, o que prefiro conceituar como “energia”, e introduzir o conceito do Metarrealismo. No segundo texto desta postagem, abordarei os limites calculados pelo físico alemão Max Planck, o que será de suma importância nos textos que seguirão.


A Surgimento da Matéria através da Energia (ou Espírito)

Energia no Espaço

Chegou o momento de abrir novas vias através do saber profundo. O momento de buscar, para além das aparências mecanicistas da ciência, o traço quase metafísico de alguma coisa diferente, ao mesmo tempo próxima e estranha, poderosa e misteriosa, científica e inexplicável. Algo como Deus, talvez.

Observando mais de perto a história das idéias, veremos caminharem lado a lado, por vezes chocando-se duramente, duas correntes adversárias, dois campos conceituais opostos: o espiritualismo e o materialismo. Segundo o protocolo espiritualista, o real é uma idéia pura. Portanto, não tem, no sentido estrito, qualquer substrato material. Só podemos ter como garantia a existência de nossos pensamentos e de nossas percepções. A leitura materialista do real impõe uma posição rigorosamente inversa, onde o espírito, o âmbito do pensamento, não passa de epifenômeno da matéria, fora da qual nada existe.

Nota: Metarrealismo é o que apaga as fronteiras entre espírito e matéria.

Em dado momento da história do universo, a energia tornou-se matéria. Tomemos um espaço vazio, ou melhor, tomemos o conceito de vácuo puro, e inserimos nele energia suficiente para gerar matéria. Isto acarretará uma flutuação quântica, de onde nasceriam as primeiras partículas, os quarks se associam formando elétrons e prótons. A energia residual ao longo de suas flutuações de estado, no meio desse vácuo, pode converter-se em matéria. Então, literalmente, essas novas partículas surgirão exatamente do nada. A isso chamaremos de vácuo quântico, onde partículas se criam e se desintegram num tempo extremamente breve, inconcebível na escala humana.
Limites e Fronteiras Calculáveis


O primeiro ato de um pensamento metalógico, o mais decisivo, consistirá em admitir que existem limites físicos ao conhecimento. Uma rede de fronteiras progressivamente identificáveis, freqüentemente calculadas, fronteiras absolutamente inultrapassáveis que cercam a realidade. Um caso particular significativo de uma tal barreira física foi posto em evidência, em dezembro de 1900, pelo físico alemão Max Planck. Trata-se do “quantum de ação”, mais conhecido como “constante de Planck”. Extremamente pequena, seu valor é de 6,625 x 11-34 joule-segundo, o que representa a menor quantidade de energia existente em nosso mundo físico.


Detenhamo-nos um instante neste fato, ao mesmo tempo fonte de mistério e de deslumbramento: a menor ação mecânica concebível. Eis-nos face a uma barreira dimensional. A constante de Planck marca o limite da divisibilidade da radiação e, conseqüentemente, o limite extremo de toda divisibilidade.

A existência de um marco inferior no domínio da ação física introduz, naturalmente, outras fronteiras absolutas no Universo perceptível. Esbarraremos, entre outras coisas, num comprimento limite, chamado “comprimento de Planck”, que representa o menor intervalo possível entre dois objetos separados. Do mesmo modo, o “tempo de Planck” designa a menor unidade de tempo possível.

Isso nos coloca questões perturbadoras: por que existem essas fronteiras? Por que elas aparecem sob essa forma tão precisa e, mais ainda, calculável? Quem, ou o que, decidiu sobre sua existência e seu valor? E enfim: o que existe além?”

Nota: As descobertas mais recentes da nova física se encontram com a intuição metafísica. A realidade não é cognoscível. É velada e está destinada a permanecer assim.



Felipe de Moraes
Concluído em 26 de março de 2009
Baseado nos pensamentos do livro Deus e a Ciência
Jean Guitton, Irmãos Bogdanov
Editora Nova Fronteira

domingo, 29 de março de 2009

Surgimento, Expansão e Tamanho do Universo


Dando seqüência às postagens sobre minhas divagações quântico-filosóficas, posto mais um artigo relacionado a um texto anterior, A Chave de uma Fronteira. Devo lembrar que fiz essa divisão de temas para os textos ficarem mais claros e concisos. Sei que essa discussão parece divergente aos assuntos que proponho discutir aqui, mas eles fazem uma ponte extremamente firme ao que penso em relação ao mundo, às artes, ao espaço e ao Deus em que vivemos.

Nesta segunda postagem, trago a discussão acerca do surgimento, expansão e tamanho do universo. O big bang foi uma explosão tão rápida quanto imaginamos?! Sim, mas dadas as distorções de tempo, podemos esmiuçar cada detalhe das 43 partes que dividem o primeiro segundo após a explosão original. Antes desse primeiro segundo, a física perde os pés, pois nada de exato e calculável há.


A Teoria do Big Bang

Iniciemos nossos pensamentos seqüencialmente. Para calcular a expansão do universo, basta medirmos a velocidade de afastamento das galáxias, e assim deduzirmos o momento primordial em que elas se encontravam reunidas num certo ponto, aproximadamente como se víssemos um filme de trás para frente. Retrocedendo esse filme cósmico imagem por imagem, acabaremos por descobrir o momento exato em que o Universo inteiro tinha o tamanho de uma cabeça de alfinete. É nesse instante, imagino, que devemos situar os primórdios de sua história.

Os astrofísicos tomam como ponto de partida os primeiros bilionésimos de segundo que se seguiram à criação. Portanto, estamos a 10-43 segundo depois da explosão original. Nessa idade fantasticamente pequena, o Universo inteiro, com tudo o que irá conter mais tarde – as galáxias, os planetas, a Terra, suas árvores, a famosa chave do texto anterior – tudo isso está contido numa esfera inimaginavelmente pequena: 10-33 centímetro, ou seja, bilhões de bilhões de vezes menor que um núcleo atômico.

Nota: A título de comparação, o diâmetro de um núcleo é de apenas 10-13 centímetro.

A Origem
A densidade e a grandeza desse universo original atingem proporções que o espírito humano não pode apreender: uma temperatura absurda, de 1032 graus, ou seja, 1 seguido de 32 zeros. Estamos diante do “limite de temperatura”, uma fronteira de calor extremo, além da qual nossa física desmorona. Nessa temperatura, a energia do Universo nascente é monstruosa; quanto à “matéria” – se é que se pode dar um sentido a essa palavra – é constituída de uma sopa de partículas primitivas, antepassadas distantes dos quarks, partículas que interagem continuamente entre si. Não há ainda qualquer diferença entre essas partículas primárias, que interagem todas do mesmo modo. Nesse estágio, as quatro interações fundamentais (gravitação, força eletromagnética, força forte e força fraca) ainda estão indiferenciadas, confundidas numa só força universal.

Tudo isso num universo que é bilhões de vezes menor que uma cabeça de alfinete! Essa época é talvez a mais insólita de toda história cósmica. Os eventos se precipitam num ritmo alucinante, a tal ponto que nesses bilionésimos de segundo acontecem mais coisas que nos bilhões de anos que se seguirão.

Um pouco como se essa efervescência dos primórdios se assemelhasse a uma espécie de eternidade. Se seres conscientes tivessem podido viver esses primeiros tempos do cosmo, certamente teriam tido a impressão de que um tempo imensamente longo, quase eterno, separava cada evento.

Expansão

Por exemplo: um evento que percebemos hoje sob a forma de um flash fotográfico equivalia à duração de bilhões de anos, nesse universo nascente. Naquela época, a extrema densidade dos acontecimentos produz uma distorção da duração. Após o instante original da criação, bastam alguns bilionésimos de segundo para que o Universo entrasse numa fase extraordinária, que os físicos chamam de “era inflacionária”. Durante essa época fabulosamente breve, que se estende de 10-35 a 10-32 segundo, o Universo infla por um fator de 1050. Seu comprimento característico passa do tamanho de um núcleo atômico ao de uma maçã de dez centímetros de diâmetro. Essa expansão vertiginosa é bem maior de que aquela que virá depois: da era inflacionária até hoje. O Universo não aumentou mais que por um fator relativamente pequeno: 109, ou seja, apenas um bilhão de vezes.

Nota: Precisamos aqui apreender visualmente, por mais difícil que pareça, que o desvio da escala existente entre uma partícula elementar e uma maçã é proporcionalmente bem maior do que aquela que separa a dimensão de uma maçã e a dimensão do Universo observável.

Portanto, no colocamos diante de um Universo do tamanho de uma maçã. O relógio cósmico indica 10-32 segundo: a era inflacionária acaba de terminar. Nesse instante existe apenas uma partícula, à qual os astrofísicos deram o nome poético de “partícula X”. É a partícula original, aquela que precedeu todas as outras. Seu papel consiste simplesmente em veicular forças. Se alguém tivesse a possibilidade de observar o Universo nesse naquele momento, teria constatado que aquela “maçã” inicial era perfeitamente homogênea, isto é, não passava de um campo de forças que ainda não continha a mínima parcela de matéria.

A 10-31 segundo, alguma coisa acontece. As partículas X dão origem às primeiríssimas partículas de matéria: os quarks, os elétrons, os fótons, os neutrinos e suas antipartículas. Lancemos o olhar sobre esse Universo nascente: ele atinge agora o tamanho de uma bola grande. As partículas que existem nessa época dão origem a flutuações de densidade que desenham, aqui e ali, estrias, irregularidades de todos os tipos.

Devemos nossa existência a essas irregularidades. Pois essas estrias microscópicas se desenvolvem para gerar, bem mais tarde, as galáxias, as estrelas e os planetas. Em suma, em alguns bilionésimos de segundo a tapeçaria cósmica das origens gera tudo o que conhecemos hoje.

Felipe de Moraes
Concluído em 26 de março de 2009
Baseado nos pensamentos do livro Deus e a Ciência,
Jean Guitton, Irmãos Bogdanov; Editora Nova Fronteira

domingo, 15 de março de 2009

Mahler - Sinfonia n.º 4

Gustav Mahler
Sinfonia 4 em Sol maior


Hoje faço uma postagem um tanto diferente. A Sinfonia 4 em Sol maior, de Gustav Mahler. Mas vocês me perguntam: “o que há de diferente nisso?!”. E eu respondo: “uma pintura para cada movimento da sinfonia.” Num momento de inspiração artístico-musical, peguei fotos que eu tenho de obras de arte tumular do Cemitério da Consolação e executei pinturas singelas em guache sobre canson. O resultado é o que posto aqui hoje, juntamente com a Sinfonia, obviamente, para análise e contemplação do resultado.


A quarta sinfonia de Mahler foi composta entre 1893 e 1896, mas estreou somente em 1901. Curiosamente, a obra começou a ser escrita pelo quarto movimento, originalmente concebido como passagens na terceira sinfonia. Mahler, entretanto optou por escrever uma nova sinfonia tomando por base essa composição, acrescentando-lhe as três partes iniciais.


Sinfonia 4, Primeiro Movimento, Mahler

O primeiro movimento é absolutamente clássico na forma, com suas três seções principais (exposição, desenvolvimento e recapitulação) claramente delimitadas. Até mesmo a escolha das tonalidades em que são expostos os dois temas principais (tônica e dominante, respectivamente) é rigorosamente formal, tal como numa sinfonia de Haydn. Chama a atenção, entretanto, a figura inicial dos guizos (instrumentos tradicionalmente atrelados a cavalos), que parece convidar o ouvinte para uma longa viagem. De fato, esses mesmos guizos aparecerão novamente no quarto movimento, onde se conhecerá o destino da viagem. Uma breve prévia de temas da Sinfonia 5 em Do sustenido menor se desenha, apresentando sugestões que serão melhor trabalhadas nessa sinfonia alguns anos depois. A pintura que executei inspirada nesse movimento foi um anjo sentado sobre um globo, onde ele observa algo no céu cima dele. A exploração de algo que ainda não sabemos, de uma viagem pelo desconhecido. A trombeta em seu colo repousa, marcando que algo certamente será anunciado.


Sinfonia 4, Segundo Movimento, Mahler

Também o segundo movimento tem forma clássica – um scherzo com dois trios. A inspiração aqui é uma pintura de Arnold Böcklin, intitulada “Freund Hein spielt auf” (O amigo Hein toca). O tal amigo Hein, esclareça-se, é uma representação alegórica da morte, que traz um inocente violino no lugar da foice. Com fina ironia, Mahler aqui escreve um solo de violino em scordatura (quando as cordas do violino são afinadas de maneira especial) que soa propositadamente estridente. Nos dois trios, o tom sarcástico do scherzo cede lugar ao ländler – danças folclóricas alemãs que lembram o antigo minueto. A pintura que executei é clara: a morte e seu violino, ao invés da foice. Sua forma lânguida, seus cabelos brancos e pele claríssima a tornam uma figura incomum, mas previamente reconhecível. Diferente do conceito de morte que nos é passado no decorrer da vida. Devo ressaltar, que Mahler não somente enchergava a morte de forma pesarosa e de perda, mas também a via de forma gloriosa, à qual deveremos chegar triunfantes e merecedore de sua graça. Quem desse violino a melodia ouvir, flanará com o que se decorre após.


Sinfonia 4, Terceiro Movimento, Mahler

O terceiro movimento, lento e melancólico, tem a placidez de uma lápide. O tema principal, inicialmente apresentado pelos violoncelos, passa por diversas variações em que o ritmo vai se intensificando. Este tema é às vezes intercalado por outro em que se cria no ouvinte uma expectativa frustrada: quando se espera o clímax, sobrevém na verdade o colapso de toda música. Esta atitude é muito comum na obra de Mahler. Pouco antes do final deste movimento, entretanto, aparece um exuberante clímax verdadeiramente mahleriano, na tonalidade de mi maior, justamente aquela em que se encerrará a sinfonia. A pintura aqui nos passa algo de total perda e tristeza. Como uma lápide, a imagem esguia apenas lamenta, sem lágrimas. Parafraseando uma passagem famosa de Drummond, "A vontade de chorar é tanta, que perplexa ela se cala."


Sinfonia 4, Quarto Movimento, Mahler
Das Himmlisches Leben


O quarto movimento é o ponto focal da sinfonia. Aqui aparece a soprano solista, cantando “Das himmlische Leben” (A Vida no Paraíso) – poema popular alemão, de autoria desconhecida, parte do ciclo “Des Knaben Wunderhorn” (O Garoto e sua Trompa Mágica), utilizado por Mahler em várias composições. “Das himmlisches Leben” é o canto de uma criança que morreu e nos descreve o paraíso, com suas comidas deliciosas e abundantes, seus personagens e afazeres, sua música perfeita. As estrofes são intercaladas por breves interlúdios orquestrais, onde se sobressai o guizo do primeiro movimento. Nas duas primeiras estrofes a música vai se esvanecendo, terminando em total placidez nas notas mais graves da harpa e do contrabaixo. Na pintura desse anjo que executei, passo o ritmo da melodia serena deste quarto movimento da sinfonia. Como se quem canta é ele, ou quem nos traz a melodia no ar é ele. A mão segura algo. O que?! Uma áurea de mistério. O que nos anuncia? A letra da música nos dira, mas muito suscintamente. Uma prévia do que Mahler acredita encontraremos.

Excertos de texto do Maestro Flavio Florence, titular da Orquestra Sinfônica de Santo André de 1988 até 2008, quando faleceu. Discussão e montagem por Felipe de Moraes.


Gustav Mahler, em foto de 1909

As sinfonias de Mahler costumam ser divididas em três períodos. E cada período faz com que as obras se relacionem entre si, tornando a produção artística de Mahler um universo único e constante que merece ser compreendido em sua totalidade.

As sinfonias do Primeiro Período são conhecidas como Sinfonias Wunderhorn, e abrangem as sinfonias 2, 3 e 4. Elas têm esse nome porque têm vínculos com as canções feitas por Mahler do ciclo de poemas conhecido como
Das Knaben Wunderhorn, já mencionados acima. Pode-se dizer que elas representam a busca de Mahler por uma fé firme e ao mesmo tempo uma busca para suas respostas acerca da existência.

A Sinfonia 1 usa elementos das canções do ciclo de poemas
Lieder Eines Fahrenden Gesellen (Canções de um Viajante Errante) e Das Klagend Lied (A Canção do Lamento). É puramente instrumental e também tem certa relação com Das Knabem Wunderhorn, ainda que de maneira mais indireta.

As sinfonias do Segundo Período, a 5, a 6 e a 7, costumam ser chamadas de Sinfonias Rückert. Elas têm esse nome porque a composição delas foi influenciada pelas canções que Mahler compôs sobre os poemas de Friedrich Rückert (1788-1866). Elas são puramente instrumentais e as mais trágicas do ciclo sinfônico.

O Último Período não tem nome e abrange as últimas obras do artista: as sinfonias 8, 9 e a inacabada 10, além da sinfonia canção
Das Lied von Der Erde (A Canção da Terra). A voz humana é usada em grande arte da Sinfonia 8, e ela costuma ser chamada às vezes de Sinfonia Coral.

As sinfonias 9 e 10 são instrumentais, e o poema sinfônico
Das Lied von Der Erde é cantado, ao redor do qual existe um certo mistério. A princípio era para ser a Sinfonia 9, mas por superstição, Mahler preferiu que fosse conhecida
como um poema sinfônico.

Abaixo, faço a postagem do pacote com a Sinfonia e um pequeno libreto com a letra do quarto movimento, como de costume. Mas infelizmente não tenho a partitura da Sinfonia 4, fico devendo e quando conseguir, farei novamente a postagem.

A interpretação que ouviremos é executada por Daniel Harding ao comando da Orquestra de Câmara Mahler, tendo como soprano solista Dorothea Röschmann, no quarto movimento. Gravação realizada nos dias 27 e 28 de janeiro de 2004, no Auditório G. Agnelli, no Centro Congressi Lingotto, em Turim, Itália.

Gosto muito dessa interpretação, ela explora profundamente a dinâmica, indo do extremo pianíssimo ao extremo fortíssimo. O colorido orquestral dos instrumentos é muito bem calculado e equilibrado. Uma referência para a interpretação dessa obra. Dorothea Röschmann não menos esbanja elegância, charme e intensidade interpretativa.

Mahler regendo

Download Aqui
Gustav Mahler (1860-1911)
Sinfonia n.º 4 em Sol maior
I – Bedächtig. Nicht eilen – Recht gemächlich
II – In gemächlicher Bewegung. Ohne Hast
III – Ruhevoll
IV – Sehr behaglich

Dorothea Röschmann,
soprano
Daniel Harding,
regência
Orquestra de Câmara Mahler


Das himmlisches Leben

Wir genießen die himmlischen Freuden,
d’rum tun wir das Irdische meiden.
Kein weltlich Getümmel
hört man nicht in Himmel!
Lebt alles in sanftester Ruh!

Wir führen ein englisches Leben!
Sind dennoch ganz lustig daneben!
Wir tanze und springen,
wir hümpfen und singen!
Sankt Peter im Himmel sieht zu!

Johannes das Lämmlein auslasset,
der Metzger Herodes drauf passet!
Wir führen ein geduldig’s,
unschuldig’s, geduldig’s,
ein lieblisches Lämmlein zu Tod!

Sankt Lukas den Ochsen tät schlachten
ohn’ einig’s Bedenken und Achten;
der Wein kost’kein Heller
im himmlischen Keller;
die Englein, die backen das Brot.
Gut’ Kräuter von allerhand Arten,
die wachen im himmlischen Garten!

Gut’ Spargel, Fisolen
und was wir nur wollen!
Ganze Schüsseln voll sin duns bereit!
Gut’ Äpfel, gut’ Birn’ und gut’ Trauben,
die Gärtner, die alles erlauben!
Willst Rehbock, willst Hasen?
Auf offener Straßen
sie laufen herbei!

Sollt ein Fasttag etwa kommen,
alle Fische gleich mit Freude angeschwommen !
Dort läuft schon Sankt Peter
mit Netz und mit Köder
zum himmlischen Weiher hinein.
Sankt Martha die Köchin muss sein!

Kein Musik ist ja nicht ayf Erden,
die unsrer verglichen kann warden.
Elftausend Jungfrauen
zu tanze sich trauen!
Sankt Ursula selbst dazu lacht!

Cäcelia mit ihren Verwandten
sind treffliche Hofmusikanten!
Die englischen Stimmen
ermuntern die Sinnen,
dass alles für Freuden erwacht.


A Vida no Paraíso

Nos divertimos com os deleites do Paraíso,
então evitamos todas as coisas terrestres.
Nenhum clamor mundano
é ouvido no Paraíso
Tudo vive na mais gentil paz!

Levamos uma vida angelical!
Mas somos completamente alegres!
Dançamos e saltamos,
saltitamos e cantamos!
São Pedro no Paraíso observa!

João deixa o pequeno cordeiro livre,
o açougueiro Herodes o vigia!
Conduzimos docilmente,
inocente, docilmente,
doce pequeno cordeiro à sua morte!

São Lucas o boi abate
sem sequer um pensamento ou cuidado;
o vinho custa nem um centavo
na adega do Paraíso;
os anjos, eles que assam o pão.
Finas ervas de variados tipos,
crescem no Jardim do Paraíso!

Requintados aspargos, feijões
e qualquer coisa que queiramos!
Pratos inteiros são para nós preparados!
Boas maçãs, boas peras e boas uvas,
os jardineiros, nos permitem tê-las todas!
Quer carne de veado ou de lebre?
Nas largas alamedas
eles correm livres!

Se o dia de jejum se aproxima,
todos os peixes vêm alegremente nadando!
Correndo vem São Pedro
com sua rede e suas iscas
dentro da lagoa divina.
Santa Marta deve ser a cozinheira!

Não há música na Terra
que possa ser comparada com a nossa.
Onze mil virgens
se lançam à dança!
Santa Úrsula, entretanto, ri!

Cecília e seus parentes
são excelentes músicos de corte!
As angelicais vozes
deleitam os sentidos,
para que todos acordem para a alegria.


Felipe de Moraes
14 de março de 2009

segunda-feira, 2 de março de 2009

Rachmaninoff - Concerto para Piano n.º 3

Sergei Vasilievich Rachmaninoff
Concerto para Piano n.º 3 em Re menor, Op. 30

Hoje estou inspirado. Todos os meus sentidos se afloram diante deste maravilhoso concerto para piano e orquestra que ouço inúmeras vezes sem me enjoar ou alterar minha postura diante de uma obra de tamanha magnitude. Rachmaninoff é o extremo Romântico, o tardio, o saudosista e extremamente intenso e melancólico. Não deixando a escola Romântica nem entrando na Moderna, Rachmaninoff faz uma ponte entre elas. Muitos elementos de sua música são Românticos, mas muitos são vanguardistas do Modernismo.

Inúmeros problemas pessoais na vida de Rachmaninoff, principalmente depressão, exílio e melancolia, tornam sua música intensa, fortíssima e extremamente tocante. Dotada de complexidade e técnica, são peças que certamente devem constar no patrimônio Universal por todo sempre.

Hoje, dado esse meu sentimento melancólico e de profunda admiração causados pelo Terceiro Concerto para Piano de Rachmaninoff, venho postá-lo e comentá-lo para vocês. E como não menos poderiam esperar de mim, posto também os arquivos dos movimentos em MP3 e a partitura do concerto inteiro, com um pequeno libreto, disponível para download pelo Rapidshare.

O Concerto para Piano e Orquestra n.º 3 em Re menor Op.30 de Rachmaninoff é famoso por suas exigências técnicas e musicais referentes ao intérprete. Este concerto tem a reputação de ser um dos mais difíceis concertos no repertório pianístico, sendo assim o favorito entre muitos pianistas virtuosos. Entretanto, o próprio Rachmaninoff citou sentir o Terceiro Concerto "f
luir mais facilmente nos dedos" do que o Segundo. As interpretações definitivas e que tomo como referência deste Terceiro Concerto foram executadas por Vladimir Horowitz, o qual o próprio compositor elogiou o domínio com o qual Horowitz executava a peça – "ele a engoliu inteira!", observou Rachmaninoff. E uma versão mais contemporânea executada por Vladimir Ashkenazy, a qual posto a gravação aqui, com a Orquestra Sinfônica de Londres sob a regência de Andre Previn.










Vladimir Ashkenazy e Andre Previn

Sem mais delongas, já posto o link abaixo, relembrando que o pacote vem com os três movimentos em formato MP3, a partitura em formato PDF e um libreto. Devo mencionar que como ainda utilizo o Rapidshare gratuitamente, o Pacote está disponível para 10 downloads. Se por ventura esses downloads se esgotarem, me enviem um comentário com e-mail de contato para o post que subo os arquivos novamente. A gravação é realizada por Vladimir Ashkenazy, com a Orquestra Sinfônica de Londres sob a regência de Andre Previn.

O Concerto











Download Aqui
Sergei Vasilievich Rachmaninoff
Concerto para Piano e Orquestra n.º3 em Re menor, Op.30
I - Allegro ma non troppo
II - Intermezzo: Adagio
III - Finale: Alla breve
Piano: Vladimir Ashkenazy
Regência: Andre Previn
London Symphony Orchestra


Seguindo a estrutura clássica de um concerto, a peça se apresenta em três movimentos.

O primeiro movimento, Allegro ma non troppo, desenvolvido na tonalidade de Re menor, inicia com uma melodia diatônica, que logo penetra em uma complexa figuração pianística. Esse movimento atinge numerosos ápices de intensidade e furor romântico, especialmente na cadência, que é minha passagem predileta deste concerto. Nessa passagem, o concerto introspecta-se apenas nas sonoridades do piano, delineando-se entre o pianíssimo e o fortíssimo extremos, onde o piano vibra, clama, chora. Um variação do tema é brilhantemente redefinida em moldes solo. O primeiro tema em sua forma pura reaparece apenas antes da coda. Rachmaninoff escreveu duas versões para a cadência desse concerto: uma primeira dramática e intensa, a original, comumente anotada como
ossia. E uma segunda mais leve, em estilo de toccata.

O segundo movimento, Intermezzo: Adagio, tem sua projeção na escalas de Fa sustenido menor e em Re bemol maior. Este movimento abre apenas com a orquestra e consiste de um número de variações sobre uma passional, extremamente romântica e simples melodia, sem seguir qualquer esquema rígido de construção. A melodia logo transita para a distante tonalidade de Re bemol maior, a qual nos introduz ao segundo tema. Após o desenvolvimento do primeiro tema e a recapitulação do segundo, a melodia principal do primeiro movimento reaparece, antes que o movimento seja encerrado pela orquestra de uma maneira similar à da introdução. Então o piano ganha a última palavra em uma curta passagem “cadenza-esque” a qual fará a transição para o último movimento, sem parada. Muitos pensamentos melódicos deste movimento aludem ao terceiro movimento do Concerto para Piano n.º 2 em Do menor, notoriamente ao gosto russo.

O terceiro movimento, Finale: Alla breve se desenvolve nas escalas de Re menor e Re maior. É rápido e vigoroso e contém muitos dos temas apresentados e utilizados no primeiro movimento, o que resulta assim na união da totalidade do concerto, ciclicamente. Entretanto, após o primeiro e segundo temas, o movimento diverge para a forma regular de sonata. Mas não há desenvolvimento convencional; este segmento é substituído por uma longa digressão que se utiliza da tonalidade maior na escala de Re do primeiro tema deste mesmo movimento, o que então o liga a dois temas do primeiro movimento. Após a digressão, a recapitulação retorna aos temas originais, construindo assim um ápice em forma de toccata bastante similares porém mais leves que a cadencia ossia do primeiro movimento. O último movimento é concluído com um triunfal e apaixonado segundo tema, em Re maior. A peça termina com as mesmas quatro notas rítmicas, aclamada por alguns como a assinatura musical de Rachmaninoff.

Na época, Rachmaninoff autorizou diversos cortes na partitura, para ser executada uma interpretação mais discreta. Estes cortes, particularmente no segundo movimento, eram comumente retirados das interpretações e gravações durante as décadas iniciais do século XX, considerando cada publicação. Mais recentemente, tornou-se usual interpretar o concerto sem os cortes. Uma interpretação típica do concerto completo demanda aproximadamente quarenta minutos.

História

Escrito no tranqüilo estado russo de Ivanovka, de onde era sua família, Rachmaninoff concluiu o concerto em 23 de setembro de 1909.






















O concerto é respeitado, em alguns casos temido por muitos pianistas. Józef Hofmann, o pianista a quem Rachmaninoff dedicou este concerto, nunca o executou publicamente, alegando que este “
não era para” ele. E Gary Graffman lamentou não ter aprendido este concerto como estudante, quando ele era “ainda tão jovem a ponto de não conhecer o medo”.

Devido ao limitado tempo, Rachmaninoff não pôde praticar o concerto enquanto esteve na Rússia. Assim, ele o praticou em um silencioso teclado que levou consigo no navio para os Estados Unidos.

O concerto teve sua primeira audição em 28 de novembro de 1909, pelas mãos do próprio Rachmaninoff, com a já extinta Sociedade Sinfônica de Nova York sob a regência de Walter Damrosch, no New Theater (mais tarde rebatizado de Century Theater). Este concerto recebeu uma segunda interpretação sob a responsabilidade de Gustav Mahler algumas semanas mais tarde, o qual Mahler definiu como uma “
experiência ao estimado Rachmaninoff”. O manuscrito teve sua primeira publicação em 1910 pela editora Gutheil.


Sergei Vasilievich Rachmaninoff

Em Russo,
Сергей Васильевич Рахманинов, nasce a primeiro de abril de 1873, e falece a 28 de março de 1943. Foi compositor, pianista e maestro russo, o último dos grandes expoentes do estilo Romântico na música européia. Sergei Vasilievich Rachmaninoff foi como o próprio compositor grafou seu nome quando viveu no ocidente, durante a segunda metade de sua vida.

Rachmaninoff é um dos pianistas mais influentes do século XX. Seus trejeitos técnicos e rítmicos são lendários, e suas mãos largas eram capazes de cobrir um intervalo de uma 13ª no teclado do piano (um palmo esticado de cerca de 30 centímetros), dado que o tamanho de sua mão correspondia à sua estatura, perto de 1,98m. Ele também possuía a habilidade de executar composições complexas à primeira audição. Muitas gravações foram feitas pela Victor Talking Machine Company, com o próprio Rachmaninoff executando composições próprias ou de repertórios populares.


Sua reputação como compositor, por outro lado, tem gerado controvérsia desde sua morte. A edição de 1954 do Dicionário Grove de Música e Músicos notoriamente desprezou sua música como "
monótona em textura... consistindo principalmente de melodias artificiais e feias" e previu seu sucesso como "não duradouro". A isto, Harold C. Schonberg em seu livro Vidas dos Grandes Compositores, respondeu, "é uma das colocações mais vergonhosamente esnobes e mesmo estúpidas a ser encontrada num trabalho que se propõe a ser uma referência objetiva". De fato, não apenas os trabalhos de Rachmaninoff tornaram-se parte do repertório padrão, mas sua popularidade tanto entre músicos quanto entre ouvintes vem, no mínimo, crescendo durante a segunda metade do Século XX, com algumas de suas sinfonias e trabalhos orquestrais, canções e músicas de coral sendo reconhecidas como obras-primas ao lado dos trabalhos para piano, mais populares.

A maioria de suas peças é carregada de melancolia, um estilo romântico tardio que remete ao estilo de Tchaikovsky.

Vida

Rachmaninoff nasceu em Semyonovo, perto de Novgorod, no noroeste da Rússia, em uma família nobre, descendente dos tártaros, que esteve a serviço dos czares russos desde o Século XVI. Seus pais foram pianistas amadores, e ele teve suas primeiras lições de piano com sua mãe. Por causa de problemas financeiros, a família se mudou para São Petersburgo, onde Rachmaninoff estudou no Conservatório da cidade antes de ir para Moscou. Deve-se observar que, no início, Rachmaninoff era considerado preguiçoso, faltando muito às aulas para ir patinar. Foi o rigoroso regime da casa de Zverev (que hospedou vários músicos jovens) que o disciplinou.






















Ainda jovem começou a mostrar grande habilidade em suas composições. Enquanto estudante, escreveu uma ópera em um ato, Aleko, o que lhe rendeu uma medalha de ouro em composição. Somando-se seu primeiro concerto para piano, um conjunto de peças para piano, incluindo o popular e famoso Prelúdio em Dó Sustenido Menor, sobre o qual o compositor ficou confuso com a fascinação do público, dado que tinha apenas 19 anos. Ele muitas vezes importunou pessoas da platéia perguntando "Oh, isto é mesmo necessário?” ou dizendo simplesmente não se lembrar dessa peça. Rachmaninoff confidenciou a Zverev seu desejo de compor mais, pedindo uma sala privativa onde ele poderia compor em tranqüilidade, mas Zverev via nele apenas um pianista e estreitou suas relações com o garoto. Após o sucesso de Aleko, entretanto, Zverev o aceitou novamente como compositor e pianista. Na verdade, suas primeiras peças sérias para piano foram compostas e executadas ainda como estudante, aos treze anos, durante sua residência com Zverev. Em 1892, aos dezenove anos, ele completou seu Concerto para Piano No. 1 Op. 1, de 1891, o qual revisou em 1917.

Rachmaninoff fez suas primeiras apresentações nos Estados Unidos como pianista em 1909, um evento para o qual ele compôs o Concerto para Piano No. 3 Op. 30, de 1909. Estas apresentações bem-sucedidas fizeram dele uma figura popular na América.

Nota: A melodia de abertura do Concerto para Piano No. 3 não é derivada de cânticos ortodoxos, um conceito errôneo que muitos músicos têm em mente. O próprio Rachmaninoff, quando perguntado, disse que ele mesmo a havia escrito.

Na medida em que Rachmaninoff constatava cada vez mais a certeza de não regressar mais à sua terra natal, foi sendo tomado por uma melancolia profunda. Muitas pessoas que chegaram a conhecê-lo somente nesta época o descreveram como o homem mais triste que eles já haviam visto. Numa entrevista em 1961, o maestro Ormandy declarou:

Rachmaninoff foi, na realidade, duas pessoas. Ele odiava sua própria música e estava geralmente infeliz ao executá-la ou conduzi-la para o público, então é este lado triste que o público conhece. Entretanto, entre seus amigos mais próximos, ele tinha um senso de humor muito bom e tinha um bom espírito.

Morte















Rachmaninoff morreu ouvindo música, em 28 de março de 1943, em Beverly Hills, na Califórnia, apenas alguns dias antes de seu aniversário de 70 anos, e foi enterrado em 1 de junho no cemitério de Kensico, em Valhalla. Nas horas finais de sua vida, ele insistia que podia ouvir música tocando em algum lugar por perto. Após ser repetidamente assegurado de que não era o caso, ele declarou: "
então a música está na minha cabeça".


Felipe de Moraes
01 de março de 2009