segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A Chave de uma Fronteira


Antes de iniciar este artigo, gostaria de fazer a primeira pergunta que me vem ao espírito, a mais obsedante e vertiginosa de toda pesquisa filosófica:
por que existe alguma coisa ao invés de nada?. Por que existe um Ser que nos separa do nada? Penso nessas coisa tão simples quanto respiro.

Objetos tão familiares podem conduzir-nos aos mais perturbadores enigmas. Por exemplo, uma chave de ferro, ali na maçaneta de sua porta, diante de você. Vamos imaginar a história dos átomos que a compõe. Até aonde precisaríamos retroceder?


Assim como qualquer objeto, essa chave tem uma história invisível, na qual nunca pensamos. Há uns cem anos ela estava escondida, sob a forma de minério bruto no seio de uma rocha. Antes de ser desenterrado, o bloco de ferro que deu origem à chave estava ali, prisioneiro da pedra cega, há bilhões de anos.

O metal de sua chave é mais antigo que a própria Terra, cuja idade é avaliada hoje em 4,5 bilhões de anos. Mas isso significa o fim de nossa pesquisa? Minha intuição é claríssima:
NÃO! É certamente possível retroceder ainda mais longe no passado para encontrar a origem da chave.

O ferro é o elemento mais estável do Universo. Podemos retroceder na viagem ao passado até a época em que a Terra e o Sol ainda não existiam. O metal desta chave já estava ali, flutuando no espaço interestelar, sob a forma de uma nuvem que continha quantidades de elementos pesados necessários à formação do nosso sistema solar.

Cedo aqui à curiosidade que fundamenta uma de minhas verdadeiras paixões: admitamos que, oito ou dez bilhões de anos antes de estar em minhas mãos, esta chave existisse sob a forma de átomos de ferro perdidos e dispersos numa nuvem de matéria nascente. De onde vinha então essa nuvem?


A resposta é bem simples: de uma estrela. Um sol que existia antes do nosso e que explodiu, há dez ou doze bilhões de anos. Nessa época, o Universo era essencialmente constituído de imensas nuvens de hidrogênio que se condensaram, se reaqueceram e acabaram por acender-se, formando as primeiras estrelas gigantes. Estas podem ser comparadas a gigantescos fornos destinados a fabricar os núcleos de elementos pesados necessários à ascensão da matéria em direção à complexidade. No fim de uma vida relativamente breve – apenas algumas dezenas de milhões de anos – ,essas estrelas gigantes explodem, projetando no espaço interestelar os materiais que servirão para fabricar outras estrelas menores, chamadas estrelas de segunda geração, assim como os planetas e os metais que eles contêm. Sua chave, assim como tudo o que se encontra em nosso planeta, é apenas o “resíduo” gerado pela explosão dessa antiga estrela.

Perceba: uma chave tão simples nos projeta no fogo das primeiras estrelas. Esse pequeno pedaço de metal contém toda história do universo, uma história que iniciou-se há bilhões de anos, antes da formação do sistema solar. Estranhos clarões me correm agora sobre esse pedaço ínfimo de metal, cuja existência depende de uma longa cadeia de causas e efeitos, que se estendem por uma duração impensável, do infinitamente pequeno ao infinitamente grande, do átomo às estrelas.

O serralheiro que fabricou esta chave não sabia que a matéria que martelava nasceu no turbilhão ardente de uma nuvem de hidrogênio primordial.

Mas minha sede de conhecimento me projeta para mais longe, de retroceder a um passado ainda mais remoto, bem anterior à formação das primeiras estrelas: pode-se ainda dizer algo sobre os átomos que formarão sua chave?

Desta vez, precisaremos retroceder, tanto quanto possível, até a origem do próprio Universo. Estamos num passado de quinze bilhões de anos. O que aconteceu nessa época? A física moderna diz que o universo nasceu de uma gigantesca explosão que provocou a expansão da matéria, expansão essa observável ainda nos dias de hoje. As galáxias, essas nuvens de estrelas, ainda afastam-se umas das outras sob o impulso dessa explosão original.

Tudo o que conhecemos como matéria, nasce do nada absoluto. Assim como o espaço e tempo observáveis, dados que são meras ilusões, assim como a realidade. Cairemos a partir daqui, em três novas discussões metafísicas, que entrarão profundamente no âmago da filosofia e da física moderna: a primeira discussão é acerca do surgimento, expansão e tamanho do universo. A segunda sobre a duração do “
tempo, e a terceira o que chamaremos de vácuo quântico, esta última com uma discussão bem mais profunda e intensa. Tenho esses pensamentos moldados em minha mente, mas para não me prolongar muito com os textos, optei por separá-los, mas a seqüência de pensamento é a mesma.

Felipe de Moraes
15 e 16 de Fevereiro de 2009

Nenhum comentário:

Postar um comentário