quarta-feira, 29 de abril de 2009

Uma Obra Sublime

Resposta a amiga e artista incondicional Silvia Menezes
.
Retenho um carinho profundo e especial como ser humano e artista por Silvia Menezes. Dada a importância e beleza de seu trabalho no meio artístico, não poderia deixar de relevar a devida importância ao seu texto crítico sobre o meu trabalho "O Anjo Elegíaco", não poderia deixar de postar um artigo especial em minhas publicações. Abaixo, reescrevo seu texto sublime. E abaixo, a minha resposta à ele.

.
Por Silvia Menezes

"Uma obra sublime, singela, doce, totalmente romântica. Se me permite fazer uma leitura pessoal, eu diria: a dor da perda de um grande amor, não mostrar seu rosto para que não se veja o seu sofrimento, o nu ao me ver representa o desejo de se tocar de se amar. Eu olho para esse anjo e sinto uma religiosidade misturada com amor carnal, aquele que desejamos e talvez não possamos ter. O seu estado de sofrimento chega a ser belo, embora traga sofrimento me parece um sofrimento bom pelo fato de ser por amor, uma certa mistura com alegria, não, não é loucura nem incoerência. Quem nunca sofreu por amor? Quem nunca experimentou as dores da perda de um doce e verdadeiro amor? Sublime. Triste é nunca ter vivido essas emoções: dor, perda, alegria, amor, sedução, sonhar acordado e tantos outros que fazem parte do amor, isso é ter vivido, o ter se arriscado, ter ido contra todos os princípios impostos pela sociedade, um anjo que talvez tenha amado um(a) mortal, vai contra esses princípios. É necessário quebrar os tabus, libertar-se para viver o que nem imaginamos. Existe um versículo bíblico que me encanta onde Deus diz: o que não subiu ao coração do homem é o que Tenho preparado para ele. Que tal criarmos asas e alçar voos nos permitirmos mais? Amar mais sem regras, sem restrições, sem preconceitos bobos, simplesmente amar. Talvez não dure para sempre, mas pelo menos existiu, terás uma história, uma lembrança, terá experimentado as sensações que mencionei acima. Ao olhar esse anjo sinto muitas emoções que chega ser difícil descrevê-las. Desculpe caso tenha ultrapassado algum limite ou tenha saído da proposta, mas escrevi o que realmente sinto quando o vejo. Um forte abraço."
.
.
Resposta, por Felipe de Moraes

.
Querida Silvia,
Não pude deixar de me emocionar com o seu texto absolutamente romântico e aprofundado numa análise absolutamente artística. Quando concebi essa obra, estava em profundo contato com Deus e de seus mistérios expressos em música, pois a executei inteiramente sob a apreciativa audição da Missa em Si menor (BWV232), de Bach. Farei ainda uma postagem dessa magnânima obra em meu blog, relacionando-a com a postagem de “O Anjo Elegíaco”.

Outro ponto que faço questão de expor, é que me identifiquei com tudo o que escreveu. No final do ano passado, passei por todos esses sentimentos que descreveu. Em várias intensidades. Confesso que chorei ao ler seu texto, primeiro porque me identifiquei profundamente com ele pelos ocorridos recentes em minha vida, e principalmente porque contextualizei três pontos cruciais: o fato da divindade do desenho, envolto com os sentimentos que afloravam em mim, e o fato de você ter captado tudo isso. E é esse o ponto: é triste nunca poder sentir essas emoções. A vida em sua efemeridade, é tão mais bela do que se fosse eterna. Tudo isso, acontece nesse breve espaço/tempo que chamamos de vida. O que é esse espaço, vazio digamos, na amplitude do universo, que em nossa contagem de tempo tem aproximadamente 15 bilhões de anos. Ela só tem um sentido repleta dessas sensações, desses momentos que passamos, dessas tristezas e alegrias. Creio que a alegria não seria tão bela se não existisse a tristeza, e vice versa. O bom é sentir ambas sempre no decorrer da vida, assim como todos os outros sentimentos e sensações. Quebrar tabus e conceitos é essencial para a sobrevivência da vida, é libertar-se, tornar sua alma livre. Só conhecemos algo quando nos permitimos isso, ou seja, quando ousamos. No princípio do século XX, um homem quebrou todos os conceitos clássicos da Física, impostos ao longo de mais de 300 anos. Seu nome é Albert Einstein. Ele explorou todo o universo sem mesmo sair da Terra. Todos os conceitos que temos hoje de “criação”, devemos a ele. Ele desvendou muitos pontos, e nos abriu muitas portas. E nunca deixando de acreditar em Deus. Ele sabia dos limites que podemos ir, sem penetrar nos mistérios de Deus, pois nessa fronteira, tudo perde o pé, e nada mais é cognoscível à nossa inteligência ou entendimento científico.

Amar sem restrições, como você escreve. Esse amar vai muito além do entendimento humano, caindo nessa fronteira que a Física calculou tão exatamente. O que compreendemos, controlamos. O que não apreendemos, nos é mistério, e assim aproveitamos mais as sensações que nos são oferecidas. “O que não subiu ao coração do homem, é o que tenho preparado para ele”. Podemos incluir em “ao coração”, também o contexto de “ao entendimento”, pois esses limites calculáveis nos separam de todo mistério de Deus. Se quiser entender mais desses meu pensamentos, pode ler mais em meus artigos de Física Quântica, pois neles os exponho de maneira filosófica e de fácil entendimento.

E como o Grande Vinícius de Moraes escreve, “que não seja imortal, posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure.” Tudo é eterno enquanto se retém na infinidade de um momento. Esses ínfimos momento se tornam eternos. Como diz Drummond: “eterno é o recém-nascido nos braços da mãe, antes que lhe dêem um nome”. Tudo nos pode ser eterno, é só querermos. Você também expõe sentir “muitas emoções que chega ser difícil descrevê-las.” O ideal e conveniente é não descrever, apenas senti-las. Devemos de todas as maneiras lutar para nunca definir nada. Apenas sentir em nosso interior. Essa capacidade de “emocionalizar” as coisas é muito difícil, mas quando conquistada, verá que evoluirá muitíssimo tanto emocional quanto intelectualmente. Você sentiu as emoções, apenas tente defini-las como emoções, sem nomes ou definições estéticas e materiais. Isso é um dos mistérios que se escondem além dos limites calculáveis. Se, por exemplo, você conseguir sentir o silêncio entre os movimentos de uma sinfonia, ou o espaço parcialmente vazio numa obra de arte, verá que ele de fato fala tanto quanto o restante da obra. Tudo isso é importante.

E não quero que peça desculpas, você teve a atitude coerente. Ousou, foi além do que até eu mesmo esperava. Sempre soube que você é uma artista de gabarito, mas agora tenho também a certeza que se continuar com essa sua força emocional e intelectual, será mais uma estrela nesse Universo.
Muito obrigado pelo seu maravilhoso texto. Que Deus sempre conserve você esse ser humano maravilhoso, e que Ele evolua seus pensamentos, suas emoções e seu intelecto, para que você nunca encontre limites, pois um dia cada um deles será quebrado.

Felipe de Moraes
29 de abril de 2009

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Reflexões sobre o Universo


Tenho mais com o que me preocupar.
Como o céu azul...
...o próximo CD que ouvirei...
...o próximo livro que degustarei.


A casa de chocolates da esquina que fecha às 20h. E se me der vontade antes de dormir já terá fechado. Tenho que me preocupar em suprir meu quarto antes que ela feche. Isso é de suma importância, concorda?!

A vida é um fato importante. Vou ficar me preocupando com ninharias que os homens criam e fazem tempestade em cima!?

A vida é simples demais.
Os homens que complicam.
O amor é simples.
O encontro com Deus é simples.
É só você parar pra perceber isso.


Você acredita em Deus?
Então é o suficiente pra você entender a simplicidade da vida.
E de que você não precisa de mais nada do que tem nesse mundo.
Só de ar para continuar vivo, e da certeza que um dia vai morrer.
E deixar tudo isso daqui pra trás, e levar consigo só o que estiver intrínseco em você, na sua alma...


Então, é o que eu falo:
Ame incondicionalmente, todas as coisas. Do mais pequenininho inseto até a grandiosidade do universo. Deus está em tudo isso. E toda essa força que move nossas paixões, nossas emoções e nossa vida, é a mesma que colocou o universo em movimento há 15 bilhões de anos.


Por isso devemos ter noção: nada é complicado demais que chegue sequer perto de uma ínfima parte de 15 bilhões de anos.

Entende a superficialidade do homem diante da magnitude do universo?
Se quiser encontrar explicação pra certos problemas, pense se esses problemas deveriam mesmo lhe incomodar.


Sim, a felicidade é tão simples quanto o amor.
Ambos, você deve encontrar dentro de si mesmo.
E só de si, porque somente assim vai aprender amar.
E quando digo amar, não é essa coisa imposta pela mídia.
Esqueça esse amor. Ele é inútil!
Só nos traz sofrimento e perda de tempo.


Por exemplo. Você nunca viu neve?
Procure na internet, fotos de um floco de neve.
É uma das coisas mais lindas!!! Ao microscópio.
E nunca, jamais, um floco de neve será igual a outro. Todos são diferentes.
E todos vão se derreter e deixar de ser o que são e se tornarem um único corpo novamente: água.

Sim, a felicidade é tão simples quanto o amor.
Ambos, você deve encontrar dentro de si mesmo.
E só de si, porque somente assim vai aprender amar.


Pensamentos devem ser moldador como argila, não talhados como mármore.


Felipe de Moraes
27 de março de 2009

O Anjo Elegíaco

Hoje farei uma postagem puramente de arte. É um desenho que executei em pastel seco sobre off-set preta, e que assinei em 14 de julho de 2005, e intitulei de “L’Ange Élégiaque”. Optei por este nome em francês, pois justamente na época em que trabalhei nessa peça, estudava conjuntamente um Trio Élégiaque para piano, violino e violoncelo, de Rachmaninov, e que fez parte do conjunto de inspirações para esse trabalho. A inspiração veio de uma escultura que está no Cemitério da Consolação, no túmulo do jornalista Cerqueira César. Na época, havia feito várias fotografias das obras de arte neste mesmo Cemitério, e já executei outras pinturas também, posteriores à, que podem ser vistas em minha postagem da Sinfonia 4 de Gustav Mahler.

Sempre fui fascinado por anjos. E nos cemitérios sempre encontro esculturas dignas para horas de sistemática apreciação. Quase sempre os artistas são desconhecidos, mas a mensagem não. Anjos são mensageiros, sempre nos trazem algo. Esses locais são sempre associados à morbidez, morte, tristeza... Mas longe disso, vejo um local de repouso, onde Deus também se faz presente, onde quem ali está apenas espera, repousando, a ressurreição. Para eles, tudo já é vencido, inclusive a morte. Os anjos e as esculturas que ali flanam, apenas admiram, às vezes entristecidos e melancólicos, às vezes admirativos, alguns até parecendo nos dizer: “Por que está triste? Sei onde está quem você procura, e está bem.”



L'Ange Élégiaque
Pastel seco sobre off-set preta - 29,7cm x 42cm - 2006

Neste desenho, o anjo repousa nu sobre blocos vermelho-magenta, e porta 2 tecidos azuis, um escondendo o que seria seu sexo (visto que anjos não têm sexo), e outro na mão esquerda, esta semioticamente simbolizando o lado das emoções. As cores foram selecionadas por mim, pois a escultura original é em mármore branco. O vermelho-magenta que escolhi para os blocos, simboliza o lado terreno, e o azul dos tecidos o lado divino. O branco do anjo, em auto-contraste com as sombras, o faz um ser divino também, cheio de luz, resplandecente. A opção de base que fiz para o desenho (off-set preto) gerou um resultado interessante, pois destaca as cores e as sombras no anjo, que são de um preto mais intenso, nos fazendo penetrar mais na obra, repousando e aprofundando o olhar. O corpo bem delineado, ao mesmo tempo em que parece flutuar, debruça-se sobre os blocos, em profunda elegia e lamento. A mão esconde o rosto, fechando a figura em seu próprio interior. As asas relaxadas também entrelaçam-se com o corpo, que possui uma sensualidade mágica e completamente humana. A iluminação é praticamente teatral, onde me remeto às obas de Caravagio, porém com maior luminescência nas cores e menor definição de realidade. O lenço azul em sua mão possui 3 dobras, simbolizando a Santíssima Trindade. A parte de cima das asas parece que irá envolvê-lo, enquanto das de baixo o elevarem. O anjo não faz nada diante da morte, apenas lamenta e introspecta-se em sua elegia. Ele está ali, apenas. Dentro de si mesmo e de seus sentimentos. O mundo decorre-se do lado de fora, e ele se deixa ver. Ele não sairá voando a qualquer momento. Ele se permite estar ali, em todo seu pesar, e em toda sua leveza. Apenas elegíaco.

Felipe de Moraes
2 de abril de 2009

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O Vácuo Quântico

Simulação de Emaranhamento Quântico

Seguimos agora à última e conclusiva postagem acerca de minhas divagações quântico-filosóficas, o que dará fechamento a essa seqüência de textos e uma conclusão momentânea aos meus pensamentos. Digo momentânea, pois a qualquer hora posso abrir uma nova discussão acerca do assunto, seja através das artes, da música, da fotografia.

Mais vastos que o Universo são os pensamentos dos homens, e por isso nunca podemos deixar determinados assuntos morrerem, apenas descansarem para em seguida despertarem sob novas ótica e perspectiva.

Existe na física um conceito novo, que provou sua riqueza operatória: o do vácuo quântico. O vácuo absoluto, caracterizado por uma ausência total de matéria e de energia, não existe. Mesmo o vácuo que separa as galáxias não é totalmente vazio, contém alguns átomos isolados e diversos tipos de radiação Seja criado de forma natural ou artificial, o vácuo no estado puro não passa de uma abstração. Realmente, não se conseguirá eliminar um campo eletromagnético residual, que constitui o “fundo” do vácuo.



Raios Gama

O vácuo quântico é, assim, o teatro de um incessante balé de partículas que aparecem e desaparecem num tempo extremamente breve, inconcebível na escala humana.


À Esquerda: simulação da formação de estrelas caso a matéria escura fosse quente, com muitos astros sendo criados ao mesmo tempo. À direita, simulação com matéria fria: Poucas estrelas com muito espaço.


Tomemos um espaço vazio. A teoria quântica demonstra que se transferirmos para ele uma quantidade suficiente de energia, pode emergir matéria desse vazio. Por extensão, pode-se supor que na origem, imediatamente antes do big-bang, um fluxo de energia incomensurável foi transferida para o vácuo inicial, acarretando uma flutuação quântica primordial, de onde nasceria o nosso Universo.

Mas de onde vem essa colossal quantidade de energia? Por intuição, aquilo que se esconde por trás do “limite de Planck” é bem uma forma de energia primordial, de uma potência ilimitada. Antes da Criação reina uma duração infinita. Um Tempo Total, inesgotável, que ainda não foi aberto, dividido em passado, presente e futuro.

O oceano de energia inesgotável é o Criador. Se não podemos compreender o que se encontra atrás do limite, é porque todas as leis da física perdem o pé diante do mistério absoluto de Deus e da Criação.

Por que o Universo foi criado? O que levou o Criador a engendrar o Universo tal como o conhecemos? Antes do “tempo de Planck” alguma coisa aconteceu. O quê?! Não sei. Um suspiro de Nada. Talvez uma espécie de acidente do nada, uma flutuação do vácuo. Em um instante fantástico, o Criador, consciente de ser aquele que É na totalidade do nada, decide criar um espelho para sua própria existência. A Matéria, o Universo, a Vida, a Inteligência, as Emoções e Sentimentos... reflexos de sua consciência, ruptura definitiva com a bela harmonia do nada original. Deus, de certo modo, acaba de criar uma imagem e, mais que isso, uma expressão de si mesmo.

Foi assim que tudo começou? Talvez a ciência nunca vá dizê-lo diretamente. Mas, em seu silêncio, ela pode e deve servir de guia para as nossas intuições.


Felipe de Moraes
Concluído em 26 de março de 2009
Baseado nos pensamentos do livro
Deus e a Ciência,
Jean Guitton, Irmãos Bogdanov;
Editora Nova Fronteira

A Duração do que Chamamos de "Tempo"

Nebulosa Ampulheta

Simplesmente chamamos de “tempo” a unidade que utilizamos para medir o decorrer dos eventos. Einstein declarou certa vez: “O tempo existe para que todas as coisas não aconteçam de uma só vez.” Mas será que de fato existe mesmo? Por exemplo: as medidas de tempo e espaço que utilizamos, serviriam, por exemplo, em Júpiter, que é imensamente maior que a Terra, e seu curso em torno de si mesmo e do Sol são igualmente maiores? Ou imaginemos um pouco além: serviria em outra parte do universo, onde os eventos acontecem bem mais rapidamente ou bem mais lentamente, e a percepção de seres pensantes fosse desse “tempo” passando mais rápido ou mais lentamente?

Um dos pontos da física quântica é esse: a percepção da passagem do tempo é diferente em cada pessoa, em cada ser. Por exemplo, tomemos uma palestra que assistimos. Se o assunto é de nosso agrado, o tempo desaparece, passa rapidamente e não nos dá a chance de sequer notá-lo. Já quando o assunto não é de nosso interesse, ou não gostamos, o tempo parece esticar-se, dilatar... até mesmo tornar-se infinito. Por que isso acontece? Essas distorções em uma medida exata, não deveriam existir. Se existem, é porque não é uma medida exata, ou a nossa percepção sobre ela não tem nenhum efeito exato.

Mas para esmiuçarmos esse assunto, voltemos consideravelmente no tempo, e vejamos como os eventos se sucederam para abrir caminho para a divisão dos acontecimentos. A 10-32 segundo, há a primeira transição de fase de nosso universo. A força forte, que garante a coesão do núcleo atômico, destaca-se da força eletrofraca, que é resultante da fusão da força eletromagnética e da força de desintegração radioativa. Nessa época, o universo já cresceu em proporções fenomenais: mede então trezentos metros de um extremo ao outro. Seu interior é o reino das trevas e das temperaturas inconcebíveis.

Entre 10-11 e 10-5 segundo, intervém um acontecimento essencial: os quarks se associam, formando nêutrons e prótons, e a maioria das antipartículas desaparece para dar lugar às partículas do Universo atual.

Na décima milésima fração de segundo, num espaço que acaba de se ordenar, surgem as partículas elementares. O Universo continua a se dilatar e a resfriar. Aproximadamente duzentos segundos após o instante original, as partículas elementares reúnem-se para formar os isótopos dos núcleos de hidrogênio e de hélio.

Uma história com cerca de três minutos. A partir daí, as coisas caminham muito mais lentamente. Durante bilhões de anos, todo o Universo fica embebido em radiações e num plasma de gás turbulento. Por volta de cem bilhões de anos, as primeiras estrelas se formam em imensos turbilhões de gás. E no núcleo delas, os átomos de hidrogênio e hélio se fundem para dar origem aos elementos pesados que encontram caminho na Terra bem mais tarde.



Nos primórdios do Universo, o tempo parece esticar e dilatar-se até se tornar infinito. Isso nos conduz a uma essencial reflexão: Não seria o caso de ver nesse fenômeno uma interpretação científica da eternidade divina? Um Deus que não teve começo e que não conhecerá fim não está necessariamente fora do tempo, tal como tem sido descrito com demasiada freqüência: Ele é o próprio tempo, simultaneamente quantificável e infinito, um tempo em que um único segundo contém a eternidade inteira. Chega a ter uma dimensão simultaneamente absoluta e relativa do tempo: esta é uma condição indispensável à criação.

Efetivamente, os físicos não têm a menor idéia daquilo que poderia explicar o aparecimento do Universo. Podem retroceder a 10-43 segundo, mas não passam daí. Esbarram então no famoso “limite de Planck” . Além do “limite de Planck”, é o mistério total.

10-43 segundo. É o “tempo de Planck”, conforme a bela expressão dos físicos. É também o limite extremo dos nossos conhecimentos, o fim de nossa viagem às origens. Além dessa barreira esconde-se uma realidade inimaginável.

Segundo o físico John Wheeler: “Tudo o que conhecemos encontra sua origem num oceano infinito de energia que tem a aparência do nada.”

Segundo a teoria do campo quântico, o Universo físico observável é constituído de flutuações menores num imenso oceano de energia.


Felipe de Moraes
Concluído em 26 de março de 2009
Baseado nos pensamentos do livro
Deus e a Ciência,
Jean Guitton, Irmãos Bogdanov;
Editora Nova Fronteira

Interlúdio: Matéria Através da Energia / Limites e Fronteiras Calculáveis

Depois do texto Surgimento, Expansão e Tamanho do Universo, devo fazer uma postagem intermediária e esclarecedora de pontos que abordarei nos dois textos seguintes, e que delineará claramente minhas intenções com esses estudos científicos. Num primeiro texto, abordarei o surgimento da matéria através do “espírito”, o que prefiro conceituar como “energia”, e introduzir o conceito do Metarrealismo. No segundo texto desta postagem, abordarei os limites calculados pelo físico alemão Max Planck, o que será de suma importância nos textos que seguirão.


A Surgimento da Matéria através da Energia (ou Espírito)

Energia no Espaço

Chegou o momento de abrir novas vias através do saber profundo. O momento de buscar, para além das aparências mecanicistas da ciência, o traço quase metafísico de alguma coisa diferente, ao mesmo tempo próxima e estranha, poderosa e misteriosa, científica e inexplicável. Algo como Deus, talvez.

Observando mais de perto a história das idéias, veremos caminharem lado a lado, por vezes chocando-se duramente, duas correntes adversárias, dois campos conceituais opostos: o espiritualismo e o materialismo. Segundo o protocolo espiritualista, o real é uma idéia pura. Portanto, não tem, no sentido estrito, qualquer substrato material. Só podemos ter como garantia a existência de nossos pensamentos e de nossas percepções. A leitura materialista do real impõe uma posição rigorosamente inversa, onde o espírito, o âmbito do pensamento, não passa de epifenômeno da matéria, fora da qual nada existe.

Nota: Metarrealismo é o que apaga as fronteiras entre espírito e matéria.

Em dado momento da história do universo, a energia tornou-se matéria. Tomemos um espaço vazio, ou melhor, tomemos o conceito de vácuo puro, e inserimos nele energia suficiente para gerar matéria. Isto acarretará uma flutuação quântica, de onde nasceriam as primeiras partículas, os quarks se associam formando elétrons e prótons. A energia residual ao longo de suas flutuações de estado, no meio desse vácuo, pode converter-se em matéria. Então, literalmente, essas novas partículas surgirão exatamente do nada. A isso chamaremos de vácuo quântico, onde partículas se criam e se desintegram num tempo extremamente breve, inconcebível na escala humana.
Limites e Fronteiras Calculáveis


O primeiro ato de um pensamento metalógico, o mais decisivo, consistirá em admitir que existem limites físicos ao conhecimento. Uma rede de fronteiras progressivamente identificáveis, freqüentemente calculadas, fronteiras absolutamente inultrapassáveis que cercam a realidade. Um caso particular significativo de uma tal barreira física foi posto em evidência, em dezembro de 1900, pelo físico alemão Max Planck. Trata-se do “quantum de ação”, mais conhecido como “constante de Planck”. Extremamente pequena, seu valor é de 6,625 x 11-34 joule-segundo, o que representa a menor quantidade de energia existente em nosso mundo físico.


Detenhamo-nos um instante neste fato, ao mesmo tempo fonte de mistério e de deslumbramento: a menor ação mecânica concebível. Eis-nos face a uma barreira dimensional. A constante de Planck marca o limite da divisibilidade da radiação e, conseqüentemente, o limite extremo de toda divisibilidade.

A existência de um marco inferior no domínio da ação física introduz, naturalmente, outras fronteiras absolutas no Universo perceptível. Esbarraremos, entre outras coisas, num comprimento limite, chamado “comprimento de Planck”, que representa o menor intervalo possível entre dois objetos separados. Do mesmo modo, o “tempo de Planck” designa a menor unidade de tempo possível.

Isso nos coloca questões perturbadoras: por que existem essas fronteiras? Por que elas aparecem sob essa forma tão precisa e, mais ainda, calculável? Quem, ou o que, decidiu sobre sua existência e seu valor? E enfim: o que existe além?”

Nota: As descobertas mais recentes da nova física se encontram com a intuição metafísica. A realidade não é cognoscível. É velada e está destinada a permanecer assim.



Felipe de Moraes
Concluído em 26 de março de 2009
Baseado nos pensamentos do livro Deus e a Ciência
Jean Guitton, Irmãos Bogdanov
Editora Nova Fronteira

domingo, 29 de março de 2009

Surgimento, Expansão e Tamanho do Universo


Dando seqüência às postagens sobre minhas divagações quântico-filosóficas, posto mais um artigo relacionado a um texto anterior, A Chave de uma Fronteira. Devo lembrar que fiz essa divisão de temas para os textos ficarem mais claros e concisos. Sei que essa discussão parece divergente aos assuntos que proponho discutir aqui, mas eles fazem uma ponte extremamente firme ao que penso em relação ao mundo, às artes, ao espaço e ao Deus em que vivemos.

Nesta segunda postagem, trago a discussão acerca do surgimento, expansão e tamanho do universo. O big bang foi uma explosão tão rápida quanto imaginamos?! Sim, mas dadas as distorções de tempo, podemos esmiuçar cada detalhe das 43 partes que dividem o primeiro segundo após a explosão original. Antes desse primeiro segundo, a física perde os pés, pois nada de exato e calculável há.


A Teoria do Big Bang

Iniciemos nossos pensamentos seqüencialmente. Para calcular a expansão do universo, basta medirmos a velocidade de afastamento das galáxias, e assim deduzirmos o momento primordial em que elas se encontravam reunidas num certo ponto, aproximadamente como se víssemos um filme de trás para frente. Retrocedendo esse filme cósmico imagem por imagem, acabaremos por descobrir o momento exato em que o Universo inteiro tinha o tamanho de uma cabeça de alfinete. É nesse instante, imagino, que devemos situar os primórdios de sua história.

Os astrofísicos tomam como ponto de partida os primeiros bilionésimos de segundo que se seguiram à criação. Portanto, estamos a 10-43 segundo depois da explosão original. Nessa idade fantasticamente pequena, o Universo inteiro, com tudo o que irá conter mais tarde – as galáxias, os planetas, a Terra, suas árvores, a famosa chave do texto anterior – tudo isso está contido numa esfera inimaginavelmente pequena: 10-33 centímetro, ou seja, bilhões de bilhões de vezes menor que um núcleo atômico.

Nota: A título de comparação, o diâmetro de um núcleo é de apenas 10-13 centímetro.

A Origem
A densidade e a grandeza desse universo original atingem proporções que o espírito humano não pode apreender: uma temperatura absurda, de 1032 graus, ou seja, 1 seguido de 32 zeros. Estamos diante do “limite de temperatura”, uma fronteira de calor extremo, além da qual nossa física desmorona. Nessa temperatura, a energia do Universo nascente é monstruosa; quanto à “matéria” – se é que se pode dar um sentido a essa palavra – é constituída de uma sopa de partículas primitivas, antepassadas distantes dos quarks, partículas que interagem continuamente entre si. Não há ainda qualquer diferença entre essas partículas primárias, que interagem todas do mesmo modo. Nesse estágio, as quatro interações fundamentais (gravitação, força eletromagnética, força forte e força fraca) ainda estão indiferenciadas, confundidas numa só força universal.

Tudo isso num universo que é bilhões de vezes menor que uma cabeça de alfinete! Essa época é talvez a mais insólita de toda história cósmica. Os eventos se precipitam num ritmo alucinante, a tal ponto que nesses bilionésimos de segundo acontecem mais coisas que nos bilhões de anos que se seguirão.

Um pouco como se essa efervescência dos primórdios se assemelhasse a uma espécie de eternidade. Se seres conscientes tivessem podido viver esses primeiros tempos do cosmo, certamente teriam tido a impressão de que um tempo imensamente longo, quase eterno, separava cada evento.

Expansão

Por exemplo: um evento que percebemos hoje sob a forma de um flash fotográfico equivalia à duração de bilhões de anos, nesse universo nascente. Naquela época, a extrema densidade dos acontecimentos produz uma distorção da duração. Após o instante original da criação, bastam alguns bilionésimos de segundo para que o Universo entrasse numa fase extraordinária, que os físicos chamam de “era inflacionária”. Durante essa época fabulosamente breve, que se estende de 10-35 a 10-32 segundo, o Universo infla por um fator de 1050. Seu comprimento característico passa do tamanho de um núcleo atômico ao de uma maçã de dez centímetros de diâmetro. Essa expansão vertiginosa é bem maior de que aquela que virá depois: da era inflacionária até hoje. O Universo não aumentou mais que por um fator relativamente pequeno: 109, ou seja, apenas um bilhão de vezes.

Nota: Precisamos aqui apreender visualmente, por mais difícil que pareça, que o desvio da escala existente entre uma partícula elementar e uma maçã é proporcionalmente bem maior do que aquela que separa a dimensão de uma maçã e a dimensão do Universo observável.

Portanto, no colocamos diante de um Universo do tamanho de uma maçã. O relógio cósmico indica 10-32 segundo: a era inflacionária acaba de terminar. Nesse instante existe apenas uma partícula, à qual os astrofísicos deram o nome poético de “partícula X”. É a partícula original, aquela que precedeu todas as outras. Seu papel consiste simplesmente em veicular forças. Se alguém tivesse a possibilidade de observar o Universo nesse naquele momento, teria constatado que aquela “maçã” inicial era perfeitamente homogênea, isto é, não passava de um campo de forças que ainda não continha a mínima parcela de matéria.

A 10-31 segundo, alguma coisa acontece. As partículas X dão origem às primeiríssimas partículas de matéria: os quarks, os elétrons, os fótons, os neutrinos e suas antipartículas. Lancemos o olhar sobre esse Universo nascente: ele atinge agora o tamanho de uma bola grande. As partículas que existem nessa época dão origem a flutuações de densidade que desenham, aqui e ali, estrias, irregularidades de todos os tipos.

Devemos nossa existência a essas irregularidades. Pois essas estrias microscópicas se desenvolvem para gerar, bem mais tarde, as galáxias, as estrelas e os planetas. Em suma, em alguns bilionésimos de segundo a tapeçaria cósmica das origens gera tudo o que conhecemos hoje.

Felipe de Moraes
Concluído em 26 de março de 2009
Baseado nos pensamentos do livro Deus e a Ciência,
Jean Guitton, Irmãos Bogdanov; Editora Nova Fronteira