sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Grafite: Pensa-se, logo, existe-se

Para iniciar o final de semana com uma reflexão mais profunda, estou postando um grafite que tem próximo à Estação Vila Madalena do metrô, na linha verde. Esse grafite fica numa grande escadaria que liga as ruas Paulistânia e Harmonia, já na esquina da Rua Harmonia. Todos os dias de segunda a sexta passo por ele, e sempre gosto de admirá-lo. Quero deirar a publicação aberta à discussões. Creio que assim seja mais conveniente, pois trocamos experiências de vida e interpretação das obras.



A primeira figura que segurou minha atenção e meu pensamento, foi de um menino de rua, negro, com uma auréola prateada, e a inscrição "Você sabe que eu existou?" Podemos apreender daí a temática em que se centraliza a obra. Será o garoto um anjo, um santo, ou o próprio Messias?! Sempre buscamos por Deus, mas nunca vimos o seu rosto. Temo estarmos buscando tesouros em lugares errados. Deus está nas entrelinhas e bem diante de nossos olhos. Ele está com a mão estendida, pedindo algo. Atenção, ou simplesmente sua indulgência!? Você sabe que Deus existe? Jesus disse certa vez: "Vós sois deuses". Somos a expressão clara de Deus, não pura e simplesmente sua imagem e semelhança, mas também sua essência mais profunda. Então, você sabe que Deus existe. Mas sabe que o menino de rua existe? Se confirmar uma sentença e não outra, estará anulando ambas.



Outra figura, que toma o centro da obra, é um garoto elegíaco, sob uma negra nuvem e céu fechado. Pele pálida, olhos extremamente profundos e tristes. Ele parece ser um garoto de uma classe social elevada, com uma boa casa, boa base monetária... mas será que, por exemplo os pais, sabem que ele existe?! Os tons de pele também entram em contraste, prolongando o senso de que esse esquecimento é bilateral.



Três figuras de um olho só, ressaltam-se maiores: "Eu não nasci pra sofrer!" Não seria o que as pessoas pensam quando tentam se colocar na mesma situação que as pessoas flageladas por algo, seja por fome ou melancolia? Elas olham, apenas com um olho, e com o mesmo olho, desviam a atenção. As bocas expressivas dizem, respectivamente: ahm, uhm e ih. Monossílabas inúteis e sem expressão alguma de ajuda.

Anjos no céu guardam, sem bocas para expressar, mas com olhos grandes que não perdem um detalhe sequer.



Já a última imagem: "Não, não vá embora..." e "Vou morrer de saudades". O Anjo guarda acima dela também.


Fotografia a Crítica: Felipe de Moraes
Registros fotográficos de 20 de Janeiro de 2009

Um comentário:

  1. Interessante seu olhar e reflexão sobre essa obra. No primeiro semestre de 2008, tive uma aula sobre grafiti e descobri que os grafiteiros são grandes artistas anônimos que com pouco material e muitas vezes quase sem nada mesmo, conseguem se expressar de forma tão maravilhosa. Na sua maioria não tiveram instrução para o desenho e pintura, aprenderam sozinhos, essa forma de expressão infelizmente é restrita apenas a periferia, o que dá uma sensação, pelo menos à mim, de que é uma arte pobre no sentido de só a periferia deve ter. Mas se tivermos o mesmo olhar com o qual vc enxergou essa obra, veremos que de pobre ela não tem nada, muito pelo contrário ela é rica em cores, profundidade, luz, sombra e tantas outras coisas em que muitos assim como eu precisam aprender e melhorar,e o mais importante ela chama a atenção exatamente para sua reflexão. Passamos todos os dias por pessoas e nunca prestamos atenção nelas, quem são, o que fazem, se tem ou não famílias, se precisam ou não de ajuda, vivemos no nosso mundo totalmente fechado e blindado. Essa obra nos faz "ouvir" um grito de socorro. Me faz lembrar de Basquiat, um grande grafiteiro americano que se não me engano foi o primeiro negro a ser considerado como artista nos Estados Unidos.(Há muito mais para se falar dele, mas faço isso em outro momento, estou trabalhando gente..rs). Temos muitos Basquiats em nosso meio, basta olhar para os muros, viadutos ou qualquer espaço que os permita "gritar" através de suas obras na tentativa de nos fazer ouvi-los. Um forte abraço.

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