sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Hoje


Hoje estou imensuravelmente feliz
Acordei com a vida brilhando esplendorosamente diante de meus olhos,
e mesmo com o céu cinza, o vejo azul.

Algo assim entre o imaginário e o real absoluto.
Entre a terra do nunca e minha vida,
entende?

Como se só me restasse esse dia de vida.

Como se o céu estivesse no lugar somente hoje,
como se o ar entrasse pela primeira vez em meus pulmões,
e me fizesse sentir o frescor da vida em toda a sua essência.

Descobri pássaros e flores a cantarem,
árvores a balançarem com o vento,
o som das águas cantando melodias.

O sorriso em rostos que amo,
em pessoas pelas quais dou, sem pensar, minha vida.
E outras pelas quais quero dar.

Descobri pessoas que amo, e porque as amo.
Porque também as amo cada vez mais,
e porque elas me fazem voar sem sair do chão.

Descori que o filho do Homem veio sim,
se tornou tudo e nada ao mesmo tempo,
nos conheceu a todos em nossas diversas faces.

E somente depois se foi.

Descobri que o sol brilha claro e quente,
com o calor sereno de uma tarde,
com raios entre as copas das árvores.

Senti o mundo parar para me deixar passar.
Senti a vida correr e parar, ao mesmo tempo.
Senti a loucura do trânsito, e a calma de flanar num jardim.

Vi meu cabelo em meu rosto,
deixei bagunçado mesmo.
Apenas coloquei os dedos entre as mechas.

Vi pinturas de Monet ganharem vida,
ouvi Vivaldi, Cher e escrevi sobre a experiência.
Vi a grandiosidade que temos ao alcance e não aproveitamos.

Uma explosão de vida,
de ser humano, em erupção,
de ter a vida em minha vida.

Vejo uma pele macia, um sorriso de criança.
Olhos que buscam os meus, palavras que buscam as minhas,
Algo assim entre o eu e o encontro.

Algo assim entre o beijo e a distância,
ou como beijos através de um smile no MSN.
Ou como a despedida sem ter encontrado.

Posso sentir algo acontecendo.
Posso sentir a vida fluir,
posso tudo.

Tenho força estrondosa, humana.
Tenho sentimentos fortes.
Amo, alegro, entristeço.

Enraiveço, colerizo, melancolizo.
Torno a amar, e peço desculpas.

Tenho muito o que fazer aqui ainda.

Tenho que pedir desculpas para pessoas que machuquei.
Que nunca quis machucar, mas aconteceu.
Tenho também que evitar disso acontecer.

Tenho que amar muito meus amigos,
porque mais do que nunca,
me dou conta que não sou nada sozinho.

Tenho que acompanhar a vida da minha família.
Porque tenho saudades dos que partiram,
e sei que terei muito mais dos que ainda partirão.

Para isso tenho vida, e sei que por isso chorarei muito.
Mas é o fundamento: início, meio e fim.
É completamente aceitável.

Para isso tenho vida, e sei que por isso rirei muito também.
Por saber que tenho essa oportunidade,
e tudo a favor dela.

Tenho que ligar para minha mãe,
dizer que a amo.
Por ela ter me dado a vida, acima de tudo.

Tenho que ligar para minha vó,
dizer que a amo.
Por ela ter feito de tudo para que eu seguisse vivo.

Falar para meu vô que tudo que sou é ele.

Poder dizer para quem já se foi
que sinto muito a falta...

Abraçar meu cachorro, ver aqueles olhos castanhos
e o nariz de trufinha. Sentir seu pêlo macio,
e sua cabeça deitada.

Tenho que beijar, abraçar e dizer que amo.
Olhando nos olhos, segurando nas mãos.
Tomar banho junto.

Bagunçar o cabelo, melar de saliva.
Deixar marca no pescoço.
Gritar, espernear e querer explodir.

Esfregar coxas depois de fazer amor,
e dormir de conchinha,
sem ter hora para acordar.

Tenho que conhecer a vastidão do mundo.
Visitar Veneza, Pequim, Atenas
e o quintal de casa.

Me dou conta da vida que corre.
E disso vou tirar proveito.
Afinal, só estou aqui por enqüanto.

Como se só agora pudesse sentir perfumes,
se só agora pudesse ouvir a música que amo.
se só agora pudesse ver o poente.

E só agora sentir a textura e calor da pele,
e o sabor de um beijo na boca.

Comer chocolate.

Assistir ao poente, apreciando as nuvens,
e ver que roxo, laranja, rosa e azul
combinam perfeitamente!

Ver o sol nascer, apreciando o ar fresco da manhã
a tocar minha pele, fazendo de cada dia
uma vida completa, com nascimento, amadurecimento e morte.

Estou vivo.

Sinto o ar fresco entrar em mim com força avassaladora,
numa explosão de vida e alegria.

Num turbilhão de sentimentos, de sensos
e vontades.

Vontade de nunca deixar a vida partir.
De nunca deixar que ela saia de meu corpo.

De nunca deixar toda essa criação
que Deus nos deu especialmente.

Cuidar não é uma opção.

Uma vontade estúpida de viver,
de amar e se dar por completo.
À vida e ao amor.

E depois de tudo...

Ah, depois é uma outra história.


Felipe de Moraes
São Paulo, 3 de dezembro de 2007
02h06

2 comentários:

  1. Meu querido, que linda poesia!!!! Simplesmente maravilhosa. Quando escreveu estava tocado por grande inspiração. Desconhecia esse seu lado poeta, fiquei até com vergonha das minhas humildes poesias. Continue a escrever pois vc é mto talentoso. Saiba que sou sua fã. Beijos.

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  2. o talento é o de menos. o que importa é a turbulência boa que causa em quem lê e provavelmente em vc, quando escreveu.
    turbulenta calmaria

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