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Antes de iniciar este artigo, gostaria de fazer a primeira pergunta que me vem ao espírito, a mais obsedante e vertiginosa de toda pesquisa filosófica: por que existe alguma coisa ao invés de nada?. Por que existe um Ser que nos separa do nada? Penso nessas coisa tão simples quanto respiro.
Objetos tão familiares podem conduzir-nos aos mais perturbadores enigmas. Por exemplo, uma chave de ferro, ali na maçaneta de sua porta, diante de você. Vamos imaginar a história dos átomos que a compõe. Até aonde precisaríamos retroceder?
Assim como qualquer objeto, essa chave tem uma história invisível, na qual nunca pensamos. Há uns cem anos ela estava escondida, sob a forma de minério bruto no seio de uma rocha. Antes de ser desenterrado, o bloco de ferro que deu origem à chave estava ali, prisioneiro da pedra cega, há bilhões de anos.
O metal de sua chave é mais antigo que a própria Terra, cuja idade é avaliada hoje em 4,5 bilhões de anos. Mas isso significa o fim de nossa pesquisa? Minha intuição é claríssima: NÃO! É certamente possível retroceder ainda mais longe no passado para encontrar a origem da chave.
O ferro é o elemento mais estável do Universo. Podemos retroceder na viagem ao passado até a época em que a Terra e o Sol ainda não existiam. O metal desta chave já estava ali, flutuando no espaço interestelar, sob a forma de uma nuvem que continha quantidades de elementos pesados necessários à formação do nosso sistema solar.
Cedo aqui à curiosidade que fundamenta uma de minhas verdadeiras paixões: admitamos que, oito ou dez bilhões de anos antes de estar em minhas mãos, esta chave existisse sob a forma de átomos de ferro perdidos e dispersos numa nuvem de matéria nascente. De onde vinha então essa nuvem?
A resposta é bem simples: de uma estrela. Um sol que existia antes do nosso e que explodiu, há dez ou doze bilhões de anos. Nessa época, o Universo era essencialmente constituído de imensas nuvens de hidrogênio que se condensaram, se reaqueceram e acabaram por acender-se, formando as primeiras estrelas gigantes. Estas podem ser comparadas a gigantescos fornos destinados a fabricar os núcleos de elementos pesados necessários à ascensão da matéria em direção à complexidade. No fim de uma vida relativamente breve – apenas algumas dezenas de milhões de anos – ,essas estrelas gigantes explodem, projetando no espaço interestelar os materiais que servirão para fabricar outras estrelas menores, chamadas estrelas de segunda geração, assim como os planetas e os metais que eles contêm. Sua chave, assim como tudo o que se encontra em nosso planeta, é apenas o “resíduo” gerado pela explosão dessa antiga estrela.
Perceba: uma chave tão simples nos projeta no fogo das primeiras estrelas. Esse pequeno pedaço de metal contém toda história do universo, uma história que iniciou-se há bilhões de anos, antes da formação do sistema solar. Estranhos clarões me correm agora sobre esse pedaço ínfimo de metal, cuja existência depende de uma longa cadeia de causas e efeitos, que se estendem por uma duração impensável, do infinitamente pequeno ao infinitamente grande, do átomo às estrelas.
O serralheiro que fabricou esta chave não sabia que a matéria que martelava nasceu no turbilhão ardente de uma nuvem de hidrogênio primordial.
Mas minha sede de conhecimento me projeta para mais longe, de retroceder a um passado ainda mais remoto, bem anterior à formação das primeiras estrelas: pode-se ainda dizer algo sobre os átomos que formarão sua chave?
Desta vez, precisaremos retroceder, tanto quanto possível, até a origem do próprio Universo. Estamos num passado de quinze bilhões de anos. O que aconteceu nessa época? A física moderna diz que o universo nasceu de uma gigantesca explosão que provocou a expansão da matéria, expansão essa observável ainda nos dias de hoje. As galáxias, essas nuvens de estrelas, ainda afastam-se umas das outras sob o impulso dessa explosão original.
Tudo o que conhecemos como matéria, nasce do nada absoluto. Assim como o espaço e tempo observáveis, dados que são meras ilusões, assim como a realidade. Cairemos a partir daqui, em três novas discussões metafísicas, que entrarão profundamente no âmago da filosofia e da física moderna: a primeira discussão é acerca do surgimento, expansão e tamanho do universo. A segunda sobre a duração do “tempo”, e a terceira o que chamaremos de vácuo quântico, esta última com uma discussão bem mais profunda e intensa. Tenho esses pensamentos moldados em minha mente, mas para não me prolongar muito com os textos, optei por separá-los, mas a seqüência de pensamento é a mesma.
Felipe de Moraes
15 e 16 de Fevereiro de 2009
Hoje vim para o trabalho ouvindo a magnífica Cantata BWV207a de Bach (a qual ainda pretendo postar aqui no blog), e, como sempre, me vieram infinitos pensamentos filosóficos à mente. Um deles é: Se quiser contemplar todo o mistério das criações de Deus, contemple a música de Bach. Bach é um entre os mais dignos representantes de Deus que já passou pela face da Terra.
Bach não somente compõe música, mas também lapida estrelas e organiza constelações que brilharão para todo o sempre.
A música de Bach é transcendental. Explica toda a existência do Universo, sua criação, sua força expansiva, a força que o move. O equilíbrio das notas, sonoridades, intensidades e expressividade e comparável com a simetria que o Universo tinha em seu princípio. Sua vibração é a mesma vibração de uma nova vida no ventre materno. A essência de toda criação, da criação da música como expressão, da criação de uma força trascendental presente entre nós. A música de Bach nos faz entrar em contato direto com essa força, sem escalas ou interferências, sem precedentes em qualquer outra situação.
Johann Sebastian Bach
Bach eleva nossos olhos à Deus, e a Glorificação à esse que sua música passa, é de total concordância e merecimento. É capaz de fazer o mais cético ateu a aceitar essa força geradora como único caminho para tudo.
O segundo pensamento, que percebo a cada dia mais, é que a música é minha forma de salvação, o caminho para a salvação de minha alma.
São duas forças intrínsecas: minha vida, e as melodias que me transportam para junto de Deus. Ninguém conhece a força e os mistérios de Deus tão bem como aqueles que penetram na música e em seus mistérios, que transformam sons em melodias, moldando áureas de sonoridades e vibração. Só conhecemos os mistérios de Deus os vivenciando. A música permite isso. Reflexão, compenetração, estudo de si mesmo e de sua própria alma, e de como esse poder oculto e ao mesmo tempo escancaradamente presente, nos leva a crer em uma força estupendamente maior e em caminhos traçados e guiados por essa força.
Num estranho momento, tive a luz que precisava. Achava que a música era ligada a Deus. Errei completamente. A música é o próprio Deus. E Deus é a música dispersa no ar, o silêncio em movimento. Assim como o Universo, das galáxias e estrelas ao ínfimo núcleo de um elétron. Assim como o homem. Não somos imagens e semelhança de Deus. Somos a própria expressão Dele.
Felipe de Moraes
03 de fevereiro de 2009
Como minha primeira portagem no segmento música, escolhi esta maravilhosa e encantadora obra de Johann Sebastian Bach. Trata-se de uma cantata para o Décimo Segundo Domingo pós Trindade, na liturgia luterana. Como sou extremamente sistemático e detalhista, faço a postagem da gravação, do libreto e das partituras (uma como foi originalmente escrita, e outra com redução para piano e voz). O download é disponível pelo Rapidshare.
"A voz do Espírito Santo? De acordo com a tradicional teologia Alemã, a qual Bach conhecia em profundidade, o registro de voz Alto é o que melhor representa o Espírito Santo. Esta cantata solo não contradiz a regra, embora não saibamos com exatidão para qual registro vocal Bach a escreveu: não é nem uma mulher nem um castrato, então só pode ser para um falsetto ou um garoto extremamente treinado. Este trabalho demanda uma enorma virtuosidade vocal. Sua extraordinária variedade vocal é como consolatórios e sublimes abraços de ninar, traços fiéis de um eco de um concerto para órgão (BWV 170), e todas as qualidades dramáticas de um oratório."
(Harmonia Mundi)
J.S. Bach - Cantates pour alto
O registro que publico aqui faz parte de um álbum da gravadora Harmonia Mundi, com interpretação a cargo do Collegium Vocale, de Philippe Herreweghe. Desta vez, ele tem a presença ilustríssima de Andreas Scholl, o maior contra-tenor da atualidade. E é exatamente uma cantata para esse raríssimo registro vocal. Alguns regentes, entre eles Helmuth Rilling e Tom Koopman deixaram a interpretação destas cantatas à cargo de uma contralto, enqüanto outros, como é o caso de Harnoncourt e de Herreweghe, se utilizam desse registro masculino.
A voz de Andreas Scholl é de uma beleza única e raríssima, diria até um dom e tom divinos. Creio ser uma excelente postagem como minha primeira publicação na área musical.
Andreas Scholl
As interpretações de Herreweghe são sempre claras e com uma leitura extremamente límpida. Tudo é muito equilibrado e muito bem ouvido. Em minha opinião, é o melhor intérprete das obras orquestrais de Bach, tanto em quesitos de seleção de instrumentistas quanto em técnicas interpretativas, que abrangem dinâmica muito bem trabalhada, sonoridades extremamente equilibradas e seleção de instrumentos e organização sonora que são fidelíssimas ao que se ouvia no Barroco.
Abaixo, segue o libreto original em alemão, e seguinte a esta, a tradução poética que fiz para o português. O interessante é, certamente, tentar compreender no idioma em que foi composta. Dado que o idioma germânico possui uma filosofia diferente do idioma português, assim como cada idioma possui sua individualidade poética e filosófica.
Trata-se de uma cantata dividida em duas partes. A primeira parte, abre com uma sinfonia com órgão obligato solista. É um arranjo do primeito movimento do concerto para órgão BWV 170, e que posteriormente Bach fará outro arranjo para o seu Concerto para Oboe em Re menor BWV 1059. Segue-se uma ária, onde o solista canta que sua alma e espíritos estão perdidamente absortos pelas maravilhas de Deus. Após, um recitativo, que exprime a sublimação do solista em ver todas as maravilhas e milagres de Deus. A segunda ária canta leve e docemente o bem que Deus faz, e que ele sempre nos dá consolo quando somos assolados. A ária é sublime, uma de minhas preferidas. Tem uma simplicidade e ao mesmo tempo uma complexidade raras. O solista pode brincar com as notas e a interpretação quase que livremente.
A segunda parte inicia-se também com uma sinfonia. O terceiro movimento do mesmo concerto para órgão, e de seu mesmo concerto para oboé. Segue-se um recitativo onde o solista canta à Deus por seu toque divino em sua vida, seguido da ária que igualmente canta o desejo de tão breve se encontrar com seu Criador.
Sem mais melongas... Deleitem-se, e tenham ótimas degustações dessa jóia rara da música, em termos composicionais e interpretativos.
Abaixo segue o link para download dos arquivos. Como ainda utilizo o Rapidshare gratuitamente,
o Pacote está disponível para 10 downloads. Se por ventura esses downloads se esgotarem, me enviem um comentário com e-mail de contato para o post que subo os arquivos novamente.
Download AQUI - J.S. Bach, Cantata BWV 35Johann Sebastian Bach
Cantata BWV 35
"Geist und Seele wird verwirret"
Primeira Parte
1. Concerto
2. Aria; Geist und Seele wird verwirret
3. Rec; Ich wundre mich
4. Aria; Gott hat alles wohlgemacht!
Segunda Parte
5. Sinfonia
6. Rec; Ach, starker Gott, lass mich
7. Aria; Ich wünsche nur bei Gott zu leben
Collegium Vocale
Direção, Phillipe Herreweghe
Alto, Andreas Scholl
Deutsche
Erstes Teil
1. Sinfonia
Oboe I/II, Taille, Violino I/II, Viola, Organo obligato, Continuo
2. Aria [Alto]
Oboe I/II, Taille, Violino I/II, Viola, Organo obligato, Continuo
Geist und Seele wird verwirret,
Wenn sie dich, mein Gott, betracht.
Denn die Wunder, so sie kennet
Und das Volk mit Jauchzen nennet,
Hat sie taub und stumm gemacht.
3. Recitative [Alto]
Continuo
Ich wundre mich;
Denn alles, was man sieht,
Muss uns Verwundrung geben.
Betracht ich dich,
Du teurer Gottessohn,
So flieht
Vernunft und auch Verstand davon.
Du machst es eben,
Dass sonst ein Wunderwerk vor dir was Schlechtes ist.
Du bist
Dem Namen, Tun und Amte nach erst wunderreich,
Dir ist kein Wunderding auf dieser Erde gleich.
Den Tauben gibst du das Gehör,
Den Stummen ihre Sprache wieder,
Ja, was noch mehr,
Du öffnest auf ein Wort die blinden Augenlider.
Dies, dies sind Wunderwerke,
Und ihre Stärke
Ist auch der Engel Chor nicht mächtig auszusprechen.
4. Aria [Alto]
Organo obligato, Continuo
Gott hat alles wohlgemacht.
Seine Liebe, seine Treu
Wird uns alle Tage neu.
Wenn uns Angst und Kummer drücket,
Hat er reichen Trost geschicket,
Weil er täglich für uns wacht.
Gott hat alles wohlgemacht.
Zweites Teil
5. Sinfonia
Oboe I/II, Taille, Violino I/II, Viola, Organo obligato, Continuo
6. Recitative [Alto]
Continuo
Ach, starker Gott, lass mich
Doch dieses stets bedenken,
So kann ich dich
Vergnügt in meine Seele senken.
Laß mir dein süßes Hephata
Das ganz verstockte Herz erweichen;
Ach! lege nur den Gnadenfinger in die Ohren,
Sonst bin ich gleich verloren.
Rühr auch das Zungenband
Mit deiner starken Hand,
Damit ich diese Wunderzeichen
In heilger Andacht preise
Und mich als Erb und Kind erweise.
7. Aria [Alto]
Oboe I/II, Taille, Violino I/II, Viola, Organo obligato, Continuo
Ich wünsche nur bei Gott zu leben,
Ach! wäre doch die Zeit schon da,
Ein fröhliches Halleluja
Mit allen Engeln anzuheben.
Mein liebster Jesu, löse doch
Das jammerreiche Schmerzensjoch
Und lass mich bald in deinen Händen
Mein martervolles Leben enden.
--
Português
Primeira Parte
1. Sinfonia
Oboe I/II, Taille, Violino I/II, Viola, Organo obligato, Continuo
2. Aria [Alto]
Oboe I/II, Taille, Violino I/II, Viola, Organo obligato, Continuo
Alma e espírito são jogados em confusão,
quando eles Te consideram, meu Deus.
Para os milagre que ambos são cientes
adicionam à conversa dos povos os brados de alegria
e fazem-se surdos e mudos para o mundo.
3. Recitative [Alto]
Continuo
Eu estou maravilhado,
por todas as coisas que vemos e que
devem nos causar admiração.
Se eu Considerar-Te,
Tu, amado filho de Deus
Então razão e entendimento alçarão vôo em mim,
Tu assim o causas
que o que, visto outrora como um milagre, é algo insignificante perante Tu.
Tú és em nome, em ações e trabalho proeminentemente maravilhoso,
Nenhuma maravilha nesta Terra é como Tu.
Ao surdo, Tu dás a audição,
Ao mudo Tu devolves o discurso,
Sim, certamente além disso,
Com uma palavra Tu abres as pálpebras dos cegos.
Estes sim, estes são Teus milagres
e o Teu poder
que nem mesmo o coro dos anjos pode suficientemente expressar.
4. Aria [Alto]
Organo obligato, Continuo
Deus tem feito tudo perfeitamente bem,
Seu amor, Sua fidelidade
são renovados a cada dia por nós.
Quando ansiedade e carência nos pressionam,
Ele nos envia rica consolação,
para que Ele dos altos nos assista dia após dia.
Deus tem feito tudo perfeitamente bem.
Segunda Parte
5. Sinfonia
Oboe I/II, Taille, Violino I/II, Viola, Organo obligato, Continuo
6. Recitative [Alto]
Continuo
Ah, poderoso Deus, permita-me
pensar em Ti continuamente
então poderei
em contentamento Tê-lo profundamente em minha alma
Permita que seu doce Hephata
amacie todo o meu tão duro coração;
Ah! Somente ponha Teu dedo de graça em meus ouvidos,
ou tão logo estarei perdido.
Toques igualmente minha língua
Com Tua onipotente mão,
então que eu possa engrandecer os sinais de maravilha
em religiosa devoção
E mostre-me que sou Teu herdeiro e filho.
7. Aria [Alto]
Oboe I/II, Taille, Violino I/II, Viola, Organo obligato, Continuo
Eu desejo viver somente com Deus,
Ah! como eu desejo que este tempo tão logo chegue,
para proclamar um aleluia jubiloso
com todos os anjos.
meu caríssimo Jesus, mantenha-me afastado das
garras do sofrimento, cheios de lamentação
e logo conceda que em Tuas mãos
minha vida preenchida de tormentos possa encerrar.
Felipe de Moraes
01 de fevereiro de 2009